Quarta-feira,
16/5/2007
Te cuida, rapaz
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 329 >>>
O talento é necessário mas pode ser também uma coisa perigosa. Yamandú Costa, por exemplo. Quando apareceu, assombrava – e todo mundo projetava nele outro Raphael Rabello. Mas projetar não basta. O talento, na realidade, não basta. Faltava, no caso de Yamandú, uma direção, para que seu talento pudesse ser canalizado, a fim de produzir grandes obras. Porque parece que, se deixassem, Yamandú continuaria lá, na noite, fritando dedos, cordas e guitarras, em casas lotadas. Assim, sob a produção de Maurício Carrilho, Yamandú gravou um primeiro álbum, onde quase não saía dos trilhos e onde, muitos diziam, não era 100% Yamandú. Seu segundo disco em estúdio foi um experimento mais interessante, com Paulo Moura, onde a aproximação com Rabello era proposital e a comparação, enfim, obrigatória. Não funcionou como o clássico da Kuarup, claro, porque Yamandú não estava suficientemente “maduro” e Moura estava mais-que-maduro – mas a tentativa foi válida. Agora passamos a uma espécie de terceiro round, em matéria de gravação: Dominguinhos e Yamandú, pela Biscoito Fino. É Yamandú dosmesticado, mais uma vez – e eles não deveriam ter incluído “Chorando baixinho” (porque, nessa, até os solos seguem os passos de Raphael Rabello) –, mas Dominguinhos, generoso e amplo, parece que, em alguns momentos, funciona melhor do que seus predecessores. “João e Maria”, por exemplo, foi um acerto em cheio; “Estrada do Sol” (e “Wave”) nos faz esquecer as regravações recentes de Tom Jobim; e “Domingando” (também “Feira de Mangaio”), cujo mérito é deixar Yamandú “perdido” e fazê-lo, justamente, mais criativo. Quando a sanfona de Dominguinhos domina, sufoca e quase apaga a estrela do virtuose do violão é que aparece a novidade – porque, até agora, estavam tratando Yamandú com muito medo e respeito. Dominguinhos não se intimidou. E jogou a sanfona pra cima dele. Vamos ver agora em show...
>>> Dominguinhos e Yamandú
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Julio Daio Borges
Editor |
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