Quarta-feira,
23/5/2007
Coração Profano
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 330 >>>
Apostando nos cruzamentos entre o erudito e o popular, e no País que cunhou essa expressão às vezes dúbia, o Mozarteum Brasileiro abriu sua temporada 2007 com a NDR Bigband e João Bosco. Na primeira parte, uma bela homenagem a Julian “Cannonball” Adderley, um dos músicos que participou das sessões do clássico Kind of Blue (1959), de Miles Davis, sob a batuta de Jörg Achim Keller, elogiado do Mike Stern, e tendo como mestre de cerimônias o trombonista Nils Landgren, que já tocou com Herbie Hancock e que, na Sala São Paulo, se deu ao luxo até de cantar. O pessoal da Traditional Jazz Band estava lá, na platéia, e houve solos, evocando desde o próprio Miles até o inevitável John Coltrane; o piano de Vladystav Sendecki, por momentos, soou como o de Chick Corea e a guitarra de Stephan Diez fez, na hora certa, um ótimo barulho. Na realidade, se alguém contasse, ninguém imaginaria que uma big band alemã, com um solista sueco, pudesse suingar tanto, chacoalhando a Sala da Osesp, sem correr tantos riscos quanto no tempo em que aquele jazz foi criado, mas fazendo bem feito e propagando a vibração. Na segunda parte, João Bosco entrou tímido e foi se soltando mais para o final, para quando reservou seus “hits”. O eterno parceiro de Aldir Blanc é mais cerebral que a média dos performers de MPB; aparentemente mais inclinado à composição do que à apresentação. O que, inicialmente, combinaria com o rigor do Mozarteum, mas que enrijeceu, um pouco, o contato com a platéia – que esperava, justamente, um encerramento mais apoteótico do que o começo já quente. 2007 ainda vai mexer com as cadeiras, ou os corações, graças à temporada que nos reserva, entre outra atrações: Lorin Maazel e a Symphonica Toscanini, Trio Bamberg e Tokyo String Quartet.
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Julio Daio Borges
Editor |
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