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Segunda-feira, 13/8/2007
Últimos Dias, de Gus Van Sant

Julio Daio Borges




Digestivo nº 340 >>> Gus Van Sant foi brilhante em recriar, no filme Elephant, a atmosfera aparentemente banal em que, dentro da Columbine School, estudantes dos Estados Unidos se convertiam em serial killers. Van Sant tentou repetir a dose, de realismo misturado com ficção em cinema, em Last Days, mas não foi tão bem sucedido. Afinal, o que pode haver de, justamente, brilhante nos últimos dias de um roqueiro junkie à beira do suicídio? Talvez haja algum brilhantismo em caracterizar o clima claustrofóbico das últimas horas de Kurt Cobain, do Nirvana, dopado, arrastando-se dentro de um casarão, balbuciando frases desconexas, mudo ao telefone, fugindo dos compromissos, alimentando-se à base de “cereais” e, eventualmente, berrando canções ao violão. Se foi mesmo o último gênio do rock, Cobain deve ter tido momentos melhores do que esses – não é possível. O longa até parece verossímil porque, no Brasil (anos antes...), o líder do Nirvana mostrou seus órgãos genitais em cadeia nacional, fez shows que os fãs não entenderam até hoje, rasgou capas de disco do rival Pearl Jam já no aeroporto, declarou na MTV local sua admiração pelos Mutantes, foi ao extinto Der Tempel com ex-punk João Gordo e abandonou no País do Carnaval manuscritos para as futuras letras de In Utero (1993). Em Last Days, não dá nem para saber se Michael Pitt – o irmão do canastrão (Brad) – está OK em seu papel (como está em The Dreamers, por exemplo), pois é filmado sempre à distância (aproveitando, claro, a semelhança física e evitando a dessemelhança de rosto). Uma consciência se desintegrando pode reter ainda algum brilho fosco? Last Days é uma promessa não cumprida nesse sentido.
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>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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