Quarta-feira,
5/9/2007
Antônia, de Tata Amaral
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 343 >>>
E vamos “processando” a periferia aos poucos... Se antes os nossos cineastas eram até agressivos em retratar a pobreza – como que para forçar a ver quem ainda não tivesse visto –, hoje os favelados, em película, são simpáticos, risonhos, tem sonhos como todos, são, enfim, gente como qualquer outra. Glauber e outros, com seu gênio incontestável, queriam politizar o “pobre”, a fim de que este, em tela grande, se enxergasse e saísse do cinema fazendo logo a revolução. E essa idéia se espraiou por outras artes, como a literatura – onde Ferreira Gullar, por exemplo, foi fazer poesia de cordel, para o povo com “consciência” política. E até na música, quando Nara Leão cansou do “hype” da bossa nova, abraçou o gênero “de protesto”, montou o show Opinião e buscou inspiração em sambistas do morro, como Cartola. Havia, nessas iniciativas, um desejo de “rompimento” que impedia, justamente, a assimilação por todas as camadas. Esses artistas eram caracterizados como “rebeldes”, subversivos, e o resto da sociedade automaticamente se protegia contra suas visões de mundo... Atualmente, portanto, é uma sorte encontrar um filme como Antônia, de Tata Amaral, que retrata, com competência, a cena do “hip-hop” de São Bernardo, no Grande ABC, mas que não toma aquela realidade como bandeira, não discursa num tom enviesado e, por isso mesmo, não precisa arrombar a porta com para ser apreciado ou simplesmente visto. Antônia, assim, acontece com naturalidade. Não está “endereçando uma mensagem” a determinada classe social, não está combatendo uma outra – então pode ser compreendido por todos, e chega muito mais longe. Os desencontros amorosos, a situação da mulher, a violência e o crime são, em Antônia, temas universais, exacerbados mais pela trama do que pelo entorno. Como arte, Antônia traz a novidade do assunto; e, como cinema brasileiro, é um sinal de maturidade.
>>> Antônia
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Julio Daio Borges
Editor |
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