Quarta-feira,
5/3/2008
Siba e a Fuloresta
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 357 >>>
Olhando pela capa, Siba parece ter saído daquela região do Nordeste que, segundo Ariano Suassuna, ficou estacionada na Idade Média. A sonoridade, aparentemente também, não nega: assaz primitiva na forma — pelo som da banda Fuloresta — só revela sua sofisticação a quem presta atenção nos pequenos detalhes... Evocando a alavanca de Arquimedes, por exemplo, Siba intitula seu álbum Toda vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar. E verseja: "Ouço o mundo me dizendo/ Corra pra me acompanhar/.../ Procurei o fim do mundo/ Porém não pude alcançar/.../ Que quando um deixa o mundo/ Tem trinta querendo entrar". Siba mistura a poesia de cordel com o repente, com a vanguarda do mangue beat. Divide os vocais com Céu, conta com a participação de um DJ (Marco), com a guitarra de Lúcio Maia, e endereça agradecimentos a Jorge DuPeixe. Enquanto canta: "Será que ainda vai chegar/ O dia de se pagar/ Até a respiração?/.../ Pela direção/ Que o mundo está tomando/ Eu vou viver pagando/ O ar do meu pulmão". Sua banda — de rua? — tem viola, bombo, tarol, "póica", trompete, sax, tuba e trombone. Numa outra época, daria para imaginá-los fazendo serenata na janela, desfilando pela praça central ou animando baile de terça-feira gorda. Só que, ao contrário das marchinhas de Carnaval, Siba e a Fuloresta entoam: "Disse a morte para a foice:/ Passei a vida matando/ Mas já estou me abusando/ Desse emprego de matar// Porque já pude notar/ Que em todo lugar que eu vou/ O povo já se matou/ Antes mesmo d'eu chegar// Quero me aposentar/ Pra gozar tranqüilidade/ Deixando a humanidade/ Matando no meu lugar". Lúgubre para quem lê, cômico para quem escuta. Se seguir a linha evolutiva da MPB, perseguir a bossa eletrônica dos 2000 ou sucumbir ao canto da musa "eclética" são estratégias do passado, Siba consegue chamar a atenção, justamente, na contramão dos "modernos", dos fashionistas e do hype. E quase torcemos para que ele não faça sucesso — e preserve essa criativa identidade.
>>> Siba e a Fuloresta
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Julio Daio Borges
Editor |
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