Quarta-feira,
21/5/2008
Cantos de Trabalho, Cia. Cabelo de Maria
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 368 >>>
O feminismo às vezes acha que inventou as mulheres que trabalham ou as mulheres no mercado de trabalho, mas, não. Uma prova recente é o CD Cantos de Trabalho, da Cia. Cabelo de Maria, com as participações de Ceumar e Destaladeiras de Fumo de Arapiraca, pelo Selo Sesc. Resultado da pesquisa da musicóloga Renata Mattar, o disco reúne cantos de mulheres do Brasil no ambiente de trabalho. Não, obviamente, uma tradição urbana, pós-revolução industrial, mas uma tradição mais ligada ao Brasil profundo, retomando até os estudos musicais de Mário de Andrade, e sua célebre jornada 50 anos atrás... Numa demonstração de rara habilidade, músicos como Gustavo Finkler, arranjador, conseguiram aliar a espontaneidade das verdadeiras cantoras in loco com intérpretes profissionais, como Ceumar, num todo homogêneo, harmônico e, sobretudo, interessante. Com o violino de Felipe Dias, que muitas vezes lembra uma rabeca (pelo seu uso), os ritmos predominantes são do Norte e Nordeste do Brasil, com uma queda especial para o repente, o coco, uma dança às vezes forrozeira e longos lamúrios lembrando uma reza de procissão. Os temas passam, claro, pelo casamento, pelos namoros, pela mulher em suas várias fases, pelas disputas amorosas, pelo lugar social, pelas expectativas e pela resignação. Ao contrário da atitude orgulhosa dos homens, no trabalho e na vida pessoal, as mulheres sempre exerceram uma força tão transformadora quanto, só que mais sutil, na sociedade. Cantos de Trabalho alterna a reflexão da lida, serena ou exasperada, com momentos de pura alegria — como se a mulher tivesse, ao mesmo tempo, de mover e de encantar o mundo.
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Julio Daio Borges
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