Segunda-feira,
4/8/2008
Outra Praia, de Swami Jr.
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 376 >>>
Muitos discos de estréia hoje são discos de muitas participações. Músicos com uma carreira consolidada no seu instrumento, por exemplo, capitalizam sua presença em vários projetos recrutando estrelas que, volta e meia, acompanharam. Parece ser o caso de Swami Jr. em seu disco solo de estréia, Outra Praia, recheado com uma verdadeira constelação da MPB contemporânea. Embora instrumentalmente o disco seja homogêneo, os convidados variam e, talvez por isso, o saldo acabe indefinido (apesar de todo o requinte). Zeca Baleiro, para começar, brilha em "Duas Ilhas", lembrando Jards Macalé (o melhor Macao). Vanessa da Matta, sem exagero, está em um dos seus melhores momentos, com "Livrai-me". Já Marcelo Pretto começa engraçadinho emulando Ed Motta (e suas vocalises) em "Bom Dia", mas não segura tanto a onda. Zélia Duncan, invariavelmente brilhante nessas ocasiões, tropeça em verbos irregularíssimos como "mulherando" e "sozinhando". Luciana Alves está OK quando se aproxima de Nina Becker, da Orquestra Imperial (em "O Tempo de um Samba"); mas não parece suficientemente madura para encarar uma influência de Leila Pinheiro (diluída em "Dois"). Chico César nunca soou tão triste como em "Outra Praia" — ainda que sua desilusão se arraste desde De uns tempos pra cá (a ponto de recuperar o forte sotaque nordestino que havia perdido no início). O próprio Swami Jr. tem boa voz em "Vou na Vida", mas sua história de resignação com "o canto" é um pouco batida. A mesma Luciana Alves cresce mais para o final, soando sofisticada e aveludada em "Fim de Ano" e o álbum poderia perfeitamente se encerrar com a animada "Sul" — não fosse "Noites Assim" (mediana nas rimas) e "Já Volto Agora" (um apelo artificial à era Pagodinho). Outra Praia é bem acabado, mas, enfim, não se decide — pode chamar a atenção pelos nomes, mas não se firma em unidade como um verdadeiro disco.
>>> Outra Praia
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Julio Daio Borges
Editor |
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