Quarta-feira,
24/9/2008
Cruel, de Deborah Colker
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 383 >>>
Já faz algum tempo que a "diretora de movimento" Deborah Colker se mostra preocupada com o desejo, com a natureza humana e até com a crueldade do amor, em entrevistas. Quase na fronteira entre os 40 e os 50 anos, ela, de repente, percebeu que — como o Vinicius de Moraes descrito por Ruy Castro — não se pode recuar diante da vida, e que "ela é muito perigosa para quem tem paixão". Cruel, o nono espetáculo da companhia que leva seu nome, e que passou pelo Teatro Alfa em setembro, ilustra, em forma de dança, as atuais preocupações da coreógrafa. Desde o "baile", a abertura onde os casais se encontram e se formam, passando pela "família", quando uma mesa intermedeia os conflitos (com rumores, diria Pedro Paulo de Sena Madureira, de facas), até a "revelação", de onde "emergem troncos, braços e pernas", evocando, finalmente, o desejo, as partes do corpo, a orgia no seu sentido mais amplo. O "baile", como o próprio nome já diz, é o que há de mais dançante, enfeitado com o globo de Gringo Cardia, e com toques até de música clássica barroca e romântica. A "família" retoma as características que fizeram de Colker uma representante do circo, das acrobacias, da "volta" à força física, com um fundo pesado de música eletrônica. Já "revelação" tenta, através de um grupo de espelhos giratórios, uma reconciliação com o corpo, com o aspecto fragmentário do desejo e com a "festa" da variedade humana. Um dos destaques fica para a trilha sonora, de Kassin e Berna Ceppas, preenchendo Cruel com a emoção que se quer passar através da história. Se antes era ignorada pelo circuito, hoje Deborah Colker coreografa para até o Cirque de Soleil (em novo espetáculo que estréia em 2009) — Cruel, portanto, é mais uma oportunidade de conhecer essa carioca que deve voar cada vez mais longe.
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Julio Daio Borges
Editor |
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