Segunda-feira,
10/11/2008
Noel — Poeta da Vila
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 389 >>>
Passou em brancas nuvens, no cinema, o filme de Ricardo van Steen inspirado na célebre biografia de João Máximo e Carlos Didier. Mesmo com Camila Pitanga no papel de Ceci — pegando embalo no sucesso da sua personagem Bebel na novela das oito — não foi possível arrastar o público para as salas. O fato é que, apesar de esteticamente bem cuidada, a produção se rende ao ritmo do videoclipe e, no afã de dar conta do livro de Máximo e Didier, se atropela em termos de narrativa — muitos coadjuvantes, igualmente célebres, se revelam superficiais e o espectador termina com a sensação de que Noel Rosa não foi essa coisa toda. Embora a escolha do ator Rafael Raposo tenha sido feliz, pela convincente semelhança física, o Noel do longa se comporta freqüentemente como um menino que não quer crescer, entre farras diárias e amores irresponsáveis, apressando a própria morte por tuberculose e assumindo compromissos que não consegue honrar em vida. Por mais que esse retrato seja verdadeiro pelo lado pessoal, o gênio das letras de samba — cujos versos Carlos Heitor Cony comparou aos de Camões — não parece combinar com o Noel infantilizado e trapalhão em película. É certo que o cinema brasileiro, e a cultura brasileira como um todo, nutre(m) uma simpatia pelo talento intuitivo, que brota da terra e baixa como numa sessão mediúnica — mas, ainda que funcione para encantar algumas platéias, esse mito deveria ser aposentado, em favor de explicações mais lógicas, afinal queremos construir um país e não esperar sempre pelo maná que caia dos céus. Noel — Poeta da Vila, no fundo, talvez não tenha ambições assim, mas nossos heróis nacionais, de qualquer jeito, mereciam mais profundidade na abordagem.
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Julio Daio Borges
Editor |
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