Digestivo nº 393 >>>
João Luís Ceccantini, em ensaio para Monteiro Lobato Livro a Livro (com organização de Marisa Lajolo e dele próprio), evoca o Lobato editor e ele merece ser lembrado mesmo em tempos de e-book. "Ah, fui um editor revolucionário", declararia o próprio, em retrospecto, depois. E foi. Aproveitando-se, inicialmente, da polêmica por conta de artigos de sua lavra no velho Estado de S. Paulo, tomaria emprestada a gráfica do mesmo para imprimir sua coletânea de lendas sobre o saci, enviadas pelos leitores do jornal numa campanha, e, em seguida, emplacaria Urupês, o primeiro best-seller de sua autoria, consolidando a figura do jeca-tatu. Na seqüência viriam, para arrebentar, as Reinações de Narizinho, sua longa incursão pela literatura infantil, e um sucesso atrás do outro, até a crise, a de 29 (nossa aparentada, agora). Lobato abandonaria as capas tipográficas de influência francesa, com fundo amarelo, e ilustraria os livros brasileiros que só tinham, antes dele, letras. Horrorizaria os puristas com propagandas, para baixar o custo de impressão, e transformaria desde farmácias até açougues em pontos-de-venda, quando as livrarias mesmo eram escassas no País. Elevaria, nesse esforço, as tiragens de algumas centenas para vários milhares, batendo recordes históricos. Para complementar, concluiria: "Nosso gosto era lançar nomes novos, exatamente o contrário dos velhos editores que só queriam saber de 'consagrados'". (Qualquer semelhança com quem aposta, hoje, na nova geração, em vez de apostar nas múmias de outrora, não é mera coincidência...) Monteiro Lobato Livro a Livro foca, justamente, na obra infantil do polemista, agitador e empreendedor cultural. O editor, contudo, salta, e faz falta, em meio ao marasmo editorial. Quem sabe o e-book, justamente, não virá para inspirar novos Lobatos?
>>> Monteiro Lobato Livro a Livro
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