Quarta-feira,
31/12/2008
A implicância de Machado com O Primo Basílio
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 396 >>>
O Machado de Assis romântico implicou com O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, assim que ele saiu. Não suportava o fato de Luísa trair Jorge com Basílio, seu primo, sem nenhum motivo mais forte. Para Machado, era uma falha imperdoável do romance. Nosso maior escritor não podia conceber uma mulher — ou uma personagem feminina — que se deixasse levar, "ao sabor do vento", a cometer um verdadeiro crime contra a instituição do matrimônio. Abominava, ainda, o que chamou de "uma luta intestina" entre Luísa, a adúltera, e sua criada, Juliana — quando esta, igualmente por acaso (sempre na interpretação de Machado), passou a chantageá-la com cartas que documentavam a transgressão. Usando pseudônimo (e já os havia desde o século XIX, ó internautas!), Machado fez publicar duas críticas ao livro de Eça — a segunda praticamente se justificando perante as respostas dos "realistas" (comentaristas?) de plantão, que saíram em defesa do grande escritor português nas gazetas do Brasil. Eça acabou lendo lá em Portugal, descobriu que o hábil crítico era Machado e, na sua prosa finíssima, não conseguiu deixar o Bruxo sem resposta: "Seu [primeiro] artigo, pela elevação e pelo talento com que está feito, honra o meu livro, quase lhe aumenta a autoridade" (!). E, de novo, ao despedir-se, elogiava olimpicamente o crítico: "Rogo-lhe aceitar a expressão do meu grande respeito pelo seu belo talento, [assinado] Eça de Queiroz". Esta polêmica se encontra esmiuçada, como poucas vezes, na clássica biografia de Magalhães Júnior, que a Record reedita agora, por ocasião do centenário da morte de Machado. As aulas de literatura — e as discussões sobre literatura — parecem muito graves hoje (quando ocorrem), mas vale recordar que também tiveram seus momentos (intestinos?) tão interessantes...
>>> Vida e Obra de Machado de Assis
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Julio Daio Borges
Editor |
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