Segunda-feira,
24/8/2009
Che, o filme, com Benicio Del Toro
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 430 >>>
Alguma coisa falhou no Che, de Steven Soderbergh, porque ele não foi o sucesso estrondoso que se anunciava. O primeiro episódio — que, supostamente, não é o da guerrilha — acaba de chegar em DVD, mas a única coisa que vemos nele é... a guerra. Aparentemente, Del Toro, o produtor, e Soderbergh, o diretor, tinham dados demais, com a consultoria de John Lee Anderson, e, no desejo de ser factual, o novo Che abriu mão de toda a licença poética. Portanto, fica difícil conectar o Ernesto Guevara de Diários de Motocicleta, de Walter Salles, com o guerrilheiro de Che. Se o primeiro é idealista e sonhador, o segundo é realista e pragmático; se o primeiro é humano e compassivo, o segundo é desumano e impiedoso; e se o primeiro é um "santo mítico", o segundo é... um homem político? Não podem existir dois Ernestos "Che" Guevara. Um deles não corresponde à realidade; um deles sustenta a ideologia. Parece que a controvérsia recomeçou... No Che, de agora, descobrimos que Ernesto Guevara gostava mesmo é de guerrilha, se sentia desconfortável fora da selva e não compreendia as vantagens de ser uma celebridade nos EUA (ao contrário de Fidel Castro). Suas declarações, pretensamente humanistas, serviram para deslumbrar intelectuais europeus e jornalistas americanos, mas estavam tão longe do seu dia a dia — matando soldados, explodindo fortificações e executando sumariamente traidores — que sua filosofia estava mais para O Príncipe, de Maquiavel, do que para o Novo Testamento, dos evangelistas. A "luta contra a opressão" e o "desejo de libertar um povo" são bandeiras politicamente corretas, até hoje, mas o autêntico Che Guevara estava mais para um mercenário, que buscava o conflito onde ele estivesse, do que para um pensador, que poderia redimir a humanidade com frases de efeito. Enfim, estamos prontos para aceitar o verdadeiro Che?
>>> Che
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Julio Daio Borges
Editor |
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