Quarta-feira,
23/9/2009
Projeto Piano Forte, com Brad Mehldau
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 434 >>>
Brad Mehldau desembarcou condenando aqueles que "roubam música" (pela internet) nos jornais, mas foi extremamente cortês na sua apresentação no Sesc Santana, dentro da série Piano Forte, até arranhando algum português (como é praxe) — ainda que economizando no discurso, e esbanjando em música (como deve ser, na verdade). Para variar, ignorou o setlist, a lista de músicas fornecida pelo pessoal do teatro. Justamente, os pontos altos da apresentação foram "Samba e Amor", de Chico Buarque, "Bittersweet Symphony", do The Verve, e "Retrato em Branco e Preto", de Tom e Chico. A primeira possivelmente resultado da sua convivência, recente, com o músico brasileiro Chico Pinheiro, com quem gravou um disco. A segunda executada num crescendo, mais violento que o rock original; para se tornar irreconhecível, de tão desconstruída, a partir do meio; para, finalmente, voltar ao normal. E a terceira minimalista, talvez evocando seu artífice, mas, igualmente, revelando os truques do compositor — por aproximá-la, logo no início, de "Insensatez" (sua irmã na simplicidade aparente). Soundgarden não deu as caras, desta vez, e Radiohead não era mais a vedete de outras eras. "Mother Nature's Son", dos Beatles — tão anunciada nas nossas gazetas — também ficou para a próxima. E se Mehldau ataca rocks óbvios, do hit parade, para estripá-los em termos de improviso, prefere standards do jazz não tão óbvios (ou não tão óbvios hoje), como "On the street where you leave", de Jerome Kern — porque, naturalmente, os standards já foram virados do avesso, enquanto os rocks, nem sempre... Bastante introspectivo em todos os momentos, e sério em excesso, em alguns deles, Mehldau parecia combinar com o tom lúgubre de Nick Drake (em "Things behind the sun"), ao mesmo tempo em que transformava Brian Wilson, dos outrora alegres Beach Boys, num verdadeiro místico (em "God only knows"). Alguém precisava convidar Brad Mehldau todos os anos, para ajudar a recuperar a densidade perdida na nossa própria música...
>>> Brad Mehldau no Projeto Piano Forte
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Julio Daio Borges
Editor |
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