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Quarta-feira, 10/2/2010
Música em 2000-2009

Julio Daio Borges




Digestivo nº 453 >>> A primeira década do novo milênio, no Brasil, foi sobretudo das cantoras. Embora os anos 2000 tenham se iniciado com a notícia da triste morte de Cássia Eller — que desfrutava de consagração graças a seu Acústico —, a primeira metade da década ainda ganharia a filha da Elis, Maria Rita (que começou promissora, emplacou um ótimo segundo disco, mas terminou indecisa nos "sambas"). Adriana Calcanhotto, talvez por ser mais veterana, promoveu uma guinada, ao sair da trilha sonora de novelas e se juntar à vanguarda do "+2" (do grande produtor Kassin), conhecendo o sucesso, comercial e de crítica, com seu Partimpim. Zélia Duncan acertaria como nunca em Sortimento, mas se perderia como intérprete (e em "duetos"), vindo a retomar seu bom desempenho com Pelo Sabor do Gesto. Vanessa da Mata assumiria sua faceta pop, abandonando as origens, enquanto Mônica Salmaso seguiria mais a linha da tradicional música brasileira, até por sua ligação com o instrumentista Teco Cardoso. A grande revelação, na segunda metade da década, seria Céu, com o médio primeiro disco e com o excelente Vagarosa. Duas gravadoras se destacariam nos anos 2000. Primeiramente, a Biscoito Fino, que terminaria se consolidando como o destino dos grandes artistas da MPB, incluindo monstros como Maria Bethânia (permanecendo exemplarmente ativa) e Chico Buarque (diluindo-se em "literatura"). E — apesar de seguir na contramão do mercado (que abandonava o formato CD) — a Trama, que apostaria num projeto de renovação, com muito investimento, mas, por se fechar nos filhos de Elis Regina, Jair Rodrigues e Wilson Simonal (entre outros), falharia artistica e comercialmente. No universo do rock, o Brasil assistiria a um revival dos anos 80, à dissolução dos Titãs (com o despontar de Nando Reis) e ao surgimento da melhor banda dos 2000 — que "romperia" antes do final da década —, o Los Hermanos (rendendo as novas carreiras de Amarante e Camelo). Sem mencionar os "coletivos" — tropicalistas? — como a Orquestra Imperial. E o rock internacional teria um de seus maiores representantes fazendo show em terras brasileiras, o Radiohead. Renovando o jazz, e "relendo" o mesmo rock, desembarcaria, aqui também, o pianista revelação da década, Brad Mehldau. Entre os brasileiros, as revelações seriam André Mehmari e Juarez Maciel (igualmente compositor). Yamandu Costa impressionaria a princípio, mas perderia, em consistência, para solistas como Camilo Carrara e Leandro Carvalho. Leandro, além de dedicar-se ao violão, exercitaria seu lado produtor, arranjando e gravando discos; e promoveria uma das maiores realizações musicais dos 2000, a Orquestra de Câmara do Estado de Mato Grosso. A Osesp, por sua vez, seria considerada o "fato da década", junto com a Sala São Paulo (ainda que perdesse(m) John Neschling). Nelson Freire ganharia, ainda mais, o mundo (e um documentário); e Antonio Meneses integraria o célebre Beaux Arts Trio. A década perderia Dorival Caymmi e Moacir Santos; o primeiro seria considerado, também, o melhor intérprete de suas canções; e o segundo veria seu Ouro Negro executado ao vivo. E, contrapondo-se à miríade de cantoras, Marcos Sacramento reinaria absoluto. O Brasil ganharia novas publicações, como a segunda encarnação da Rolling Stone; enquanto assistiria à consagração de revistas como a Concerto e de projetos como o VivaMúsica. Entre os melhores livros, estariam o Rock Report (de Fabio Massari, sobre o célebre programa); Todo DJ já Sambou (de Claudia Assef, no auge da música eletrônica); e a biografia de Simonal (por Ricardo Alexandre, que também publicaria Dias de Luta). Ainda no lado da música erudita, o Brasil ganharia um novo crítico, Irineu Franco Perpétuo (com direito a aparições televisivas). E, em termos de espaços, o prêmio iria para o Teatro Alfa, e para o novo Auditório Ibirapuera (com programação do incansável Pena Schmidt). A primeira década dos 2000, por fim, seria ainda do download; embora a Apple tenha conseguido reverter uma parte dos "ganhos" para as gravadoras, com o lançamento do player do novo milênio, o iPod, e da loja de música que substituiu gigantes como a Tower Records, a iTunes Store. Os artistas viveriam de suas apresentações (e, não mais, de suas gravações), as rádios perderiam espaço para o internet e o CD não seria mais "central" para a distribuição de música. No finalzinho da década, a revista Economist anunciaria que a "pirataria" vinha diminuindo... Um novo alento para os 2010?
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