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Segunda-feira, 15/2/2010
Hagakure, o Livro do Samurai

Julio Daio Borges




Digestivo nº 454 >>> Hagakure, o chamado Livro do Samurai, uma compilação de Yamamoto Tsunetomo, com organização de William Scott Wilson, terminou associado à Arte da Guerra (pela mesma editora Conrad). Talvez porque a "sabedoria" tenha mais apelo, hoje, quando associada ao mundo dos negócios. Toda arte é inútil, como gostava de divulgar Oscar Wilde, mas, num País como o nosso, fica cada vez mais difícil justificar a aquisição de um livro completamente inútil. Hagakure não é "estruturado" como A Arte da Guerra. Não tem um "objetivo" claro; é resultado de uma coleção de máximas, compiladas a partir da oralidade. Assim, há muita repetição e, por vezes, uma anedota não nos diz nada, como se não fizesse mesmo sentido. Um dos "mantras" — se é que podemos abusar da linguagem deste modo — se refere à necessidade do samurai de se preparar, diariamente, para a morte. Como na filosofia ocidental, "aprender a morrer" talvez seja o supremo aprendizado. Ao contrário daquele best-seller sobre o "monge", o "executivo", em Hagakure, pode ser comparado ao guerreiro — e fica mais fácil entender os "conselhos" dessa forma. O "protagonista" de Hagakure — num outro esforço de aproximação — tem grande respeito pela servidão, pela devoção a um mestre, mas soa violento, aos nossos ouvidos, pregando, inclusive, a prática da decapitação. O guerreiro e seus hábitos contrastam com frases de grande beleza, como: "É essencial [em termos de propósito e disciplina] tornar a mente pura e serena". Para aterrissar, novamente, no solo: "Enfrente a situação". Ou contrariando — para a surpresa dos executivos — um valor quase inestimável: "Dinheiro é algo que podemos pegar emprestado, mas um bom homem não é fácil de se encontrar". Para os bem-sucedidos: "Durante épocas de felicidade, o orgulho e a extravagância são perigosos". E para os não tão bem-sucedidos: "Ter coragem é cerrar os dentes e avançar, independentemente da situação". E, finalmente, sob a influência do zen-budismo: "A coisa mais importante de sua vida é o objetivo que você persegue no presente momento". Livros como Hagakure, no fim das contas, não nos trazem respostas prontas, mas reforçam valores, quando surgem as dúvidas e as questões...
>>> Hagakure
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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