Quarta-feira,
10/3/2010
O negócio do livro eletrônico, por Jason Epstein
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 457 >>>
Jason Epstein ficou conhecido por escrever quase um clássico do mercado editorial: O Negócio do Livro (Record, 2002). Nele, falava das suas cinco décadas de experiência no assunto, enquanto revisitava iniciativas das quais participou: como a Library of America (a equivalente, nos EUA, da nossa Nova Aguilar), com Edmund Wilson; The New York Review of Books (sim, o célebre periódico — que ajudou a fundar); até um precursor do nosso Círculo do Livro (vendendo obras por catálogo); e até um encontro com Jeff Bezos, da Amazon (o qual foi aconselhado a abandonar o negócio porque, segundo Epstein, não havia como ganhar dinheiro com a venda de livros por correspondência...) E, para quem sentia falta da "voz da experiência", Jason Epstein ressurgiu agora, em março, no New York Review of Books, para comentar, justamente, sobre a "revolução" do livro eletrônico — do Kindle até o iPad. Começa afirmando que a transição da indústria do livro físico (das gráficas até as distribuidoras) para o livro eletrônico "no ciberespaço", "despachado para qualquer lugar da Terra", "de modo tão rápido e barato quanto um e-mail", está andando a passos largos e é irreversível. "Com chão tremendo debaixo de si", continua Epstein, é natural que editores mantenham um pé "no passado que desmorona", enquanto procuram "terreno firme" no futuro, para eles "hesitante", da "digitalização". "Novas tecnologias, no entanto, nunca pedem licença" e — evocando Joseph Schumpeter — alerta que, como os terremotos, elas "não estão abertas à negociação". Para Epstein, a capacidade, "sem precedentes", de "Kindles" e "iPads" oferecerem uma "plataforma multilíngue", com uma "escolha ilimitada de títulos", vai destronar o tradicional "sistema gutenberguiano" ("com ou sem a cooperação dos executivos do mercado editorial"). A digitalização, continua Epstein, torna possível um mundo em que "qualquer um [virtualmente] pode se considerar editor" e onde "qualquer um pode se chamar de autor". Contudo, alerta que o "solitário trabalho da criação literária", em ficção, "quase nunca é colaborativo": "As redes sociais podem ajudar na divulgação desse ou daquele título, mas violam a privacidade necessária para forjar a verdadeira literatura". A crítica, segundo Epstein, será mais necessária do que nunca; e "gênios literários" devem surgir nos quatro cantos do mundo. Direitos autorais, regulados de maneira diferente em cada país, perderão o sentido. E, "com a eliminação de gráficas, distribuidoras e livrarias" — do processo todo —, leitores de livros eletrônicos pagarão cada vez menos, e autores de livros eletrônicos ganharão cada vez mais (enquanto muitos grupos editoriais simplesmente desaparecerão...). Epstein ainda teme a pirataria e, comparando aos músicos, que podem viver de shows, camisetas e até propaganda, avisa que "escritores não podem se dar ao luxo"... Como já havia previsto a invasão, cada vez maior, dos best-sellers nas livrarias (em O Negócio do Livro), Epstein apenas espera que o livro eletrônico preserve o que chama de "nossa memória cultural" — sem a qual "nossa civilização entraria em colapso"...
>>> Publishing: The Revolutionary Future
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Julio Daio Borges
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