Segunda-feira,
15/3/2010
Steve Jobs e Bill Gates juntos, no All Things Digital
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 458 >>>
Foi Carmine Gallo quem disse que, sem o arquivo do YouTube, jamais seria possível escrever sobre os "segredos" das "apresentações" de Steve Jobs. E se juntarmos isso à "mania" que um gênio provoca (outro exemplo é o de Kafka em relação a Goethe), podemos concluir que: não é um exagero refazer, hoje, os passos de Jobs; a fim de entender melhor como a Apple (iPod, iPhone, iPad) chegou onde chegou. Gallo, em termos de apresentações, escolhe três: a do lançamento do Macintosh, em 1984; a da volta de Steve Jobs à Apple, em 1997; e a do lançamento do iPhone, em 2007. Mas um vídeo — que rivaliza com o do discurso em Stanford, em termos históricos (embora não seja tão revisto) — é do encontro de Jobs com Bill Gates, no evento do All Things Digital. Os editores do site devem estar até agora se perguntando como isso pôde acontecer, mas aconteceu, e foi em 2007. Ainda não havia o Kindle, ainda não havia o iPad, apenas a sugestão dos "post-PC devices" (aparelhos pós-PC) — enquanto o mundo parecia se render às aplicações "na nuvem" e, consequentemente, ao Google. Tanto que muita gente, na época, interpretou o encontro como uma tentativa, dos dois gigantes, de juntar suas forças contra o "monstro" das buscas, que ameaçava dominar tudo... Assistindo hoje — em retrospecto — vemos que não era só isso... O encontro já começa histórico, quando a moderadora, do AllThingsD, pede que cada um defina o outro, elencando as respectivas contribuições à indústria da computação. Steve Jobs — o mago das apresentações dos produtos da Apple — está alerta, e parece mais ansioso que seu, suposto, rival... Bill Gates, por sua vez, não se abala: sorri, faz piadas, e não se preocupa em impor suas ideias (ou mesmo sua versão da história). É como se Gates já tivesse dominado o mundo antes, e não se importasse tanto mais. Enquanto que Jobs estaria apenas "começando" (a dominar o mundo; com o iPhone), e ainda precisasse "se colocar"... Tanto que, num determinado momento, sobre as "colaborações em conjunto" (Microsoft produzindo software para o Macintosh), Jobs interrompe Gates e dispara: "Deixe-me contar a história..." Pequenas rusgas à parte, é um privilégio poder assistir aos dois gênios comentando a internet — que sucedeu a ambos —, o ambiente contemporâneo de empreendedorismo on-line e, sem mencionar nomes, as empresas de hoje... Jobs observa que sempre foi "o mais novo" nas reuniões, nos primeiros tempos da Apple — e que, hoje, é quase sempre "o mais velho" (deixando escapar que, com Bill Gates, pode estar se tornando um "dinossauro"...!). Jobs completa que não existe nada como ter a "visão" de um mercado promissor, de alguma coisa grandiosa ("ali na esquina"), de uma revolução a caminho. "É o que faz alguém levantar todos os dias para ir trabalhar"... Gates prefere se concentrar no futuro — embora ninguém leia A Estrada do Futuro hoje —, no lugar do PC (que, mais uma vez, não vai acabar), nas limitações da internet (que, como tudo, não é perfeita) e nas ambições da Microsoft (não parece incomodado com o "Office", do Google, "na nuvem")... Jobs confessa que admira as jovens empresas de hoje "que ainda querem ter uma cultura" (e não querem apenasmente ser "vendidas para os grandes grupos")... Gates, em relação a Jobs, confessa que é bom ter alguém "caminhando lado a lado", por tanto tempo. Enquanto Jobs, respondendo, evoca uma canção dos Beatles: "You and I have memories/ Longer than the road that stretches out ahead". "Eu e você temos memórias/ Maiores que as da estrada que se desdobra/ À nossa frente"... Para a plateia explodir em palmas, e até em lágrimas... Para quem imaginava um encontro sanguinário entre Apple e Microsoft, foi um final um tanto quanto inesperado... E Steve Jobs — com ou sem Bill Gates — conseguiu produzir, conforme a sugestão de Carmine Gallo, mais uma apresentação histórica...
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Julio Daio Borges
Editor |
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