Terça-feira,
1/6/2010
Ronnie James Dio (1942-2010)
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 464 >>>
A imprensa, na sua eterna falta de assunto, preferiu associar Ronnie James Dio ao símbolo do heavy metal — aquele sinal feito com as mãos, indicando dois chifres — do que analisar qual teria sido seu legado para o rock em geral e, particularmente, para esse estilo. Dio encarou, pelo menos, dois desafios de monta, como vocalista. Primeiro, um guitarrista que saía da segunda melhor formação do Deep Purple para formar seu próprio conjunto; estamos falando de Ritchie Blackmore e do Rainbow. Depois, um guitarrista, um baixista e um baterista que viram sua banda à beira do abismo, após a saída de seu legendário vocalista; estamos falando do que restara do Black Sabbath, agora sem Ozzy Osbourne. Dio não só fez a glória do Rainbow, reinterpretando clássicos como "Mistreated", como fez a glória da segunda encarnação do Sabbath, ajudando a forjar clássicos como "Neon Knights", "Heaven and Hell" e "Die Young" (entre outros). Sem contar sua carreira solo, com álbuns também clássicos como Holy Diver (1983) e The Last in Line (1984). Obviamente, Dio não foi nenhum santo. Terminou acusado de adulterar o volume dos vocais na mixagem final de Live Evil (1982), seu "ao vivo" com o Sabbath, ofuscando o resto da banda e inutilizando o disco. E, já nos anos 90, recusou-se a "abrir" a reunião histórica do Sabbath com Osbourne, sendo substituído, com louvor, por Sabbath ("versão Vinnie Appice") mais Rob Halford. Dio — como praticamente todos os conjuntos de rock depois — não resistiu ao canto da sereia da "volta", reunindo-se ao "seu" Black Sabbath (antes da reunião com Ozzy), para um disco medíocre, Dehumanizer (1992), mas para uma turnê até que razoável (que, inclusive, passou pelo Brasil). Dio ainda voltaria com sua própria banda, para Holy Diver Live (2006) — antecipando, desta vez, a linha nostálgica do Somewhere Back in Time do Iron Maiden —, também com passagens pelo Brasil, mas já literalmente sem voz, conforme atesta o YouTube. O Heaven & Hell — na verdade o Black Sabbath "versão Dio" (impedido de usar o nome por... Ozzy Osbourne) — seria o canto do cisne do vocalista que começou cedo, mas que se consagrou, relativamente, tarde. Seus vocais impressionantemente musculosos, para alguém de sua estatura, e guturais, influenciaram toda a posterior linhagem do heavy metal "mais rápido" e "mais pesado" do final dos anos 80, início dos anos 90 (Sepultura incluso). Mesmo criativamente pouco inspirado e afônico, Dio morreu "em combate" — o que parece ser o destino de quase todos os ídolos do rock que, a exemplo de Mick Jagger e, sim, de Ozzy Osbourne, não desistem jamais. ;-)
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Julio Daio Borges
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