Terça-feira,
21/9/2010
Ponto Final, de Mikal Gilmore
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 471 >>>
Mikal Gilmore, jornalista veterano da Rolling Stone, tem uma tese interessante. Os anos 60 foram uma "janela no tempo" — que se fechou, a partir dos 70. "The dream is over", "O sonho acabou" — e aquela história toda... A Segunda Guerra produziu um baby boom. E os baby boomers dominaram os anos 60, com seu "poder jovem". Pela primeira vez na História, o mundo estava mudando, a uma tal velocidade, que entendê-lo se tornou uma tarefa para os mais jovens. E os mais velhos... foram destronados. Nunca mais o planeta quis ser "velho" e foi inaugurada, já naquela época, a fixação pela juventude eterna. A pílula anticoncepcional produziu a liberação sexual ("a tecnologia vem antes da ideologia" [Millôr Fernandes]). E o "amor livre", combinado à libido de Freud (e da psicanálise), minou o conceito de virgindade antes do casamento — e o próprio conceito de casamento... O idealismo juvenil se globalizou e as utopias cresceram como nunca — temperadas por supostas alternativas ao capitalismo, desde a Rússia até Cuba. Como todo jovem sempre quis mudar o mundo, explodiu a luta pelos direitos civis, nos Estados Unidos, e as manifestações antiguerra, do Vietnã. Os artistas — assim como os poetas, "antenas da raça" (Pound) — vocalizaram essas transformações, redefiniram o conceito de liberdade e catapultaram essa mesma juventude num círculo virtuoso (às vezes, vicioso). O mundo virou de cabeça para baixo. E todos nós herdamos essas mudanças... Mas vieram os anos 70. Os Beatles acabaram. Subiu Nixon. "Heróis morreram de overdose". John Lennon foi deportado. Ditaduras se consolidaram. John Lennon foi morto. Caiu o muro. A União Soviética se desmembrou. Os baby boomers morrem agora... (Neste momento, pensamos: será que a internet, também, não é uma "janela" que pode, de repente, se fechar para sempre?) Em Ponto Final, com tradução de Oscar Pilagallo pela Companhia das Letras, Mikal Gilmore reúne perfis de gente como John Lennon, Jim Morrison e Bob Marley. E de conjuntos como Pink Floyd, Led Zeppelin e The Doors. As minibiografias são interessantes para quem não os conhece. Já quem conhece, vai descobrir que os melhores insights estão na introdução. Gilmore fala em "desilusões dos anos 60", tentando aceitar que o espírito daquela época não poderia durar uma eternidade... E, sem querer, evoca Murilo Mendes: os poetas e os artistas são aqueles que se sacrificam em nosso nome, pela expressão de um sentimento... Poderia — em resumo — haver maior sacrifício que o de mudar o mundo?
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Julio Daio Borges
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