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Quarta-feira, 19/1/2011
A desmoralização dos prêmios literários no Brasil

Julio Daio Borges




Digestivo nº 475 >>> Foi o Piauí Herald quem prometeu instituir um prêmio para todos os não-premiados do nosso cinema. Apesar dos "festivais" de cinema pululando a cada cidadezinha, a Piauí brincava com o fato de ser quase impossível encontrar um filme brasileiro não-premiado. Ainda que não haja tantas "festas" literárias quanto festivais de cinema, a premiação excessiva da literatura contemporânea nos conduz a uma conclusão parecida... A estranheza começou com a vitória esmagadora de O Filho Eterno (2007), de Cristovão Tezza — que, apesar de ser um genuíno best-seller, estranhava que fosse tão absolutamente unânime. Em três anos, abocanhou o Jabuti, o APCA, o Prêmio Bravo!, o Portugal Telecom, o São Paulo de Literatura e o Passo Fundo. E a polêmica terminou agora, no Jabuti de 2010, com Chico Buarque perdendo para Edney Silvestre, na categoria romance, mas vencendo no resultado geral da premiação. No caso específico de Chico Buarque, o prêmio é sempre pelo "conjunto da obra", pois seus "romances" são, no máximo, razoáveis (não chegando a ser nem bons, nem ótimos). Fora que paira a suspeita, desde a década de 90, de que Chico Buarque não escreve, assim como Jô Soares não escreve, assim como Caetano Veloso teve uma boa ajuda de Rubem Fonseca etc. Lançar livros de celebridades é um bom negócio, porque quem compra, geralmente, não lê. Agora, lançar livros de unanimidades é um excelente negócio, pois quem compra, mesmo que leia, nunca se atreve a discordar. O fato é que não temos, atualmente, uma cena literária tão pujante, que justifique essa lista de prêmios literários, que acabam recaindo nos mesmos nomes. Para piorar, quem escreve, no Brasil, muito comumente, faz "crítica", às vezes edita, quase sempre divulga e, fatalmente, "julga" livros em premiações. E como faltam jurados — assim como faltam bons escritores, bons livros e bons críticos —, a cena literária, se é que ela merece essa denominação, vai ficando viciada. Não existe rigor, porque o defenestrado de hoje pode ser o editor de amanhã; o preterido na votação hoje pode ser o divulgador televisivo de amanhã; o criticado de agora pode ser o jurado do prêmio de amanhã. E assim por diante... Para usar uma metáfora futebolística — tão cara ao nosso loquaz ex-Presidente —, é como se um mesmo jogador pudesse, alternadamente, entrar em campo, apitar o jogo, treinar o time, comentar as partidas e, no limite, até fazer cartolagem. Não que o nosso futebol seja um exemplo de probidade. Mas a nossa "literatura", ou o que sobrou dela, tem passado por algo de nível igualmente baixo. E as pessoas ainda conseguem acreditar...
>>> A política dos prêmios literários
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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