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Quarta-feira, 13/4/2011
Julie (Powell) & Julia (Child), com Meryl Streep

Julio Daio Borges




Digestivo nº 478 >>> Poucos gêneros de escrita foram tão enxovalhados quanto os blogs. Nem os poetas marginais dos anos 80, nem a imprensa de oposição dos anos 60, poucas categorias foram tão desacreditadas quanto a dos blogueiros. Os blogs apanham desde que nasceram, no final dos anos 90 nos EUA. E no Brasil, no início dos anos 2000, foram comparados ao gênero mais desqualificado de literatura, o diário adolescente. Numa época em que ninguém mais sabe o que é poesia — e na qual poetrastros não abundam como antigamente — comparar alguém que escreve a um diarista adolescente é a maior humilhação concebível. Portanto, um filme em que, justamente, a heroína é uma blogueira tem lá o seu mérito. Nem que seja o da novidade. E, claro, ela é inicialmente humilhada no próprio filme: sua mãe — como é praxe — questiona seus propósitos, duvida da sua audiência e aconselha que ela desista antes de mesmo começar. Julie Powell, a blogueira em questão, era uma apagada funcionária de baia — numa empresa de telemarketing? —, quando decidiu extravasar sua paixão por cozinhar. Abordando um clássico da literatura americana, de Julia Child, propôs a si mesma o desafio de executar uma receita por dia, e divulgar os resultados no blog. Como num conto de fadas na era da internet, seus posts vão chamando a atenção, ela mistura vida pessoal — é evidente —, e, do site da revista eletrônica Salon, ela migra para as páginas do New York Times. Lógico que, na vida real, os maiores detratores dos blogueiros sempre foram os jornalistas de papel, e parece assaz inverossímil que algum repórter fosse chamado para cobrir... um blogger. Mas aconteceu. O blog de Julie Powell virou livro. (E filme...) Em paralelo, é contada a história da mesma Julia Child, que a inspirou. E, ao contrário do que Julie imaginava, Julia teve igualmente suas crises existenciais: não foi de início aceita na escola de culinária Le Cordon Bleu (por ser mulher); foi quase ludibriada por uma de suas colegas (que desejava ter crédito nas receitas sem trabalhar); e lutou bravamente para ver seu livro publicado (não foi aceita "de primeira"). É fato que os blogs caíram de moda, com a ascensão de outras redes como o Facebook e o Twitter (a chamada rede de microblogs), mas o filme ilustra, ainda que simplificadamente, a gênese de uma empreitada autoral na internet. Os blogs talvez sejam um "momento" da Web, mas — como a geração mimeógrafo e os pasquins da ditadura — deixam suas marcas nos corações e mentes daqueles que ganharam (ou perderam) alguma coisa com eles ;-)
>>> Julie & Julia
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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