Segunda-feira,
5/8/2013
Vocabulários grego e latino da filosofia
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 493 >>>
Quantas bobagens proclamadas em nome da filosofia. É verdade que os filósofos são ridicularizados desde os tempos de Sócrates. No Górgias, o mestre de Platão infelizmente gasta tempo ouvindo impropérios. Pois é: se mesmo o filósofo que dividiu a História da Filosofia, tinha de aturar os estultos, ninguém está a salvo. E a filosofia, muito menos. Por essas e por outras, em vez de perder horas com filósofos, e filosofias, de segunda mão, dois livros da editora WMF Martins Fontes vêm em nosso socorro. São o Vocabulário grego da filosofia, de Ivan Gobry, e o Vocabulário latino da filosofia, de Jean-Michel Fontanier. No primeiro, simplesmente a origem de conceitos como o "bem" (agathón), a "virtude" (areté), a "justiça" (dikaiosıne), entre outros, muitos outros. Sendo menos um jeito de aprender grego do que uma maneira de entender por que a história do pensamento tomou o rumo que tomou. Gobry, basicamente, refaz a trajetória de cada palavra importante, desde os pré-socráticos, como Pitágoras, passando, obviamente, por Sócrates, Platão e Aristóteles, chegando até Plotino e, às vezes, Sexto Empírico. São discussões acaloradas sobre, por exemplo, o que cada um considerava "corpo", "alma" e "espírito". Sendo que muitas definições atravessam séculos, outras ficam esquecidas e algumas chegam até nós. Vale lembrar que a linguagem é uma criação humana. E que o nosso pensamento se construiu dentro do edifício da linguagem. Ou seja: nossos modos de pensar são herdados desses pensadores que, ao longo de milênios, consolidaram alguns vocábulos e, não, outros. No Vocabulário latino da filosofia, Fontanier começa evocando a declaração de Heidegger: "Não existe filosofia romana". Lembrando, no parágrafo seguinte, que ― apesar de Heidegger ― "por quase quinze séculos, o latim se converteu no veículo da filosofia ocidental". Desde Cícero até Leibniz, passando por santo Agostinho, santo Tomás, Descartes e Espinosa, o Ocidente pensou em latim. Nesse volume, expressões como aeterna veritas (verdade eterna), affectio, amicitia (amizade), humanitas, individuus, intellectus, entre outras. E já estão disponíveis os "vocabulários" de Pascal e Schopenhauer, entre outros volumes. Afinal, o uso das palavras varia mesmo dentro da obra de um único pensador. São livros de menos de 200 páginas, mas densos como poucos. E se estudar filosofia é, também, estudar o vocabulário filosófico, o leitor brasileiro tem a oportunidade rara de ir direto na fonte. Nem Gobry e nem Fontanier desejam falar da sua filosofia, mas, com a honestidade de dicionaristas, investigam cada termo, e o uso que dele fizeram os mestres, só os mestres. E, para quem acha que não gosta de filosofia, vale repetir que, tirando a parte técnica, filosofia nada mais é que a sabedoria ou o amor a ela. E, num mundo saturado de autoajuda, a filosofia nada mais é que uma fonte de primeira água.
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Julio Daio Borges
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