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Segunda-feira, 3/2/2014
O Instagram de Tony Hawk

Julio Daio Borges




Digestivo nº 497 >>> Heróis de uma era dificilmente são heróis de outra era. Steve Jobs? Lembre-se de que ele, também, caiu no ostracismo entre a saída da Apple e a ascensão da Pixar. "Não sei se acredito em vida após a morte, mas certamente acredito em morte ainda em vida", dizia Groucho Marx, nos anos 70, para Bill Cosby, pois amargava o esquecimento depois de ― comediante genial ― comandar alguns dos primeiros talk shows em rede nacional. Tony Hawk foi o rei do skate no final dos anos 80. Ao lado de figuras como Christian Hosoi. Alguém se lembra disso? O skate não pegou muito no Brasil, é verdade. Mas fizeram algumas tentativas, com revistas e pistas. Acessórios eram contrabandeados do Paraguai e a trilha sonora, por incrível que pareça, vinha da 89 FM. Meio ecológica, meio engajada, a rádio ainda não se rendera ao rock dos anos 90. Tony Hawk, no Brasil, se misturava com New Order, as danceterias e os shoppings pré-rolezinhos (da "velha" classe média, alguém se lembra disso?). Fast forward para a segunda década do novo milênio: Tony Hawk ressurge no Instagram. E o mais impressionante: falando de skate. Entre os 40 e os 50, pai de família, não é o mesmo sujeito "atirado" de outrora, mas sua vida ainda parece uma grande aventura, pelo menos aos olhos de seus seguidores. Tony Hawk tem uma veia de fotógrafo, quem diria. E um senso de humor, e uma autocrítica, que não combinam com ídolos (ou ex-ídolos). Parece que se diverte do mesmo jeito ou até mais agora. Suas evocações dos anos 80 não são nostálgicas. Ele fala com respeito, mas nunca querendo voltar no tempo. E sua família é digna de um reality show. Herdeiros da genética "skatista" do pai, suas crianças se arriscam e fazem macaquices, sem medo de serem felizes. Tony Hawk parece dosar bem o tempo entre as solicitações profissionais e as acrobacias in private. Não é um pai "em busca do tempo perdido". Volta e meia despeja conteúdo de sua prole crescendo, enquanto era um astro, mas sem perder contato com as raízes. É, ainda, um colecionador de memorabilia do universo do skateboard. Resgata manifestações da modalidade na cultura popular dos EUA, como nós, brasileiros, nem poderíamos imaginar. Tony Hawk não se restringe ao esporte, ou às competições, mas aposta num "lado artístico" da coisa, numa forma de expressão urbana, redundando em fenômeno social. Mais ou menos como o rap, a chamada street art e "subculturas" que se refletiram ― umas mais, outras menos ― em nossa urbe. Bizarrices também ganham espaço e "vídeo-cacetadas", porque, afinal, ninguém é de ferro. Tony Hawk, contudo, não se rende ao apelo fácil... O Instagram começou com um respiro para o Facebook, cujo gigantismo é sua maior ameaçada. Mas, no Brasil, o Instagram já se entrega a algumas fórmulas, com as dicas de blogueiras fashion, os "treinos" das rainhas do silicone e as eternas fotos de comes & bebes... Tony Hawk não é fotógrafo profissional, não é modelo e não é celebridade, mas conseguiu ser uma referência no Instagram. Hoje até quem não gosta de skate, gosta dele.
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>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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