Segunda-feira,
12/5/2014
Luciano do Valle (1947-2014)
Julio
Daio Borges
|
Digestivo nº 500 >>>
Luciano do Valle foi Galvão Bueno antes de Galvão Bueno. E, principalmente, melhor que Galvão Bueno. Quando o tom oficialesco de Galvão Bueno se consagrou na TV Globo, era na TV Bandeirantes que os telespectadores iam buscar refúgio. Luciano do Valle driblou a correção política ao dar espaço a um desbocado Silvio Luiz, nos anos 80, e a um nada sofisticado Neto, nos anos 90. E, em vez de repousar sobre os louros da fama, abriu novas frentes para a transmissão esportiva. Quem viveu os anos 80 se lembra de Bernard, e sua "jornada nas estrelas", Montanaro, William e Xandó, a chamada "geração de prata" do vôlei brasileiro. Assim como quem viveu os anos 90 obviamente se lembra de Marcelo Negrão, Tande, Giovane e Maurício, que conquistaram, efetivamente, o ouro para o Brasil. Luciano do Valle forjou, igualmente, carreiras como as de Hortência e Paula, no basquete feminino. E, mais discutivelmente, a de Adilson Rodrigues "Maguila", no boxe. Quando o Brasil descobria a NBA, Luciano do Valle apelidou Paula de "Magic Paula" (evocando Magic Johnson). E quando o mundo se espantava com Mike Tyson, quis, com o "professor" Newton Campos, que o Brasil tivesse, nos pesos pesados, seu representante. (Não durou dois rounds com Evander Holyfield, em 1989, para a decepção geral da nação.) Em sua primeira encarnação, Luciano do Valle juntou-se à equipe esportiva da Globo durante a cobertura da Copa de 70. Consagrou-se, nessa década, quando cobriu as principais vitórias de Emerson Fittipaldi na F1. Depois da Copa da Espanha, em 82, saiu da Globo para a Record, mas fez escola mesmo, a partir de 83, na Bandeirantes. Praticamente criou o "Canal do Esporte", apostando em transmissão esportiva maciça, aos domingos, com o Show do Esporte. (Quando não competia com Galvão Bueno, estava competindo com ninguém menos que Silvio Santos.) Luciano do Valle ainda foi pioneiro da Fórmula Indy no Brasil e quis fazer até o futebol americano cair no nosso gosto. Exageros à parte, ficamos sem alternativa na próxima Copa do Mundo, justamente a do Brasil. Não dá para comparar Luciano do Valle com Milton Neves ou ― pior ― com José Luiz Datena. Mas pior ainda será Galvão Bueno reinando absoluto na Globo. O homem que já esculhambou Pelé, em pleno Tetra, sofreu a campanha do "Cala a Boca, Galvão", na última Copa, e não abaixou a crista, aparentemente não será detido em pleno voo, nem pela proverbial sinceridade de Casagrande. Cléber Machado? É muito bom-mocismo para um locutor só... Mas voltando a Luciano do Valle, o fato é que a TV Bandeirantes deve-lhe muito, para não dizer tudo. Antes de ser hoje esse player representativo da comunicação brasileira, o Grupo Bandeirantes contou com a visão, o pioneirismo e a grande capacidade de realização do campineiro Luciano do Valle Queirós.
>>> Luciano do Valle
|
|
>>>
Julio Daio Borges
Editor |
|
|