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Quarta-feira, 13/6/2001
Eu sempre trago o fracasso junto comigo

Julio Daio Borges




Digestivo nº 36 >>> Infiel, filme de Liv Ullmann, com roteiro de Ingmar Bergman, não é aconselhável para pessoas sensíveis ou que andam vivendo complicações amorosas de qualquer gênero. Embora seja de uma beleza estética incomparável, com paisagens de sonho, e atores de grande presença cênica, o longa desfecha punhaladas suscessivas na moral do espectador, qualquer que seja ela. Estende a tortura ao limite do insuportável. Mentalmente a platéia pede para o que sofrimento acabe, mas ele só se agrava, nocauteando o público e deixando sua alma em frangalhos. Se as cenas ali vistas não imitassem, com tamanha fidelidade, a vida real, seria pertinente indagar: quais os desígnios de uma mente tão fria e calculista ao conceber horrores, atrocidades e crueldades desse porte? As pessoas levantam-se das cadeiras e caminham mudas, brancas, chocadas, até o carro. Não há o que falar. Pesadelos estão reservados para mais à noite, e uma enxaqueca, para de manhã. Claro que Infiel, essa montanha-russa de emoções, levando o coração à boca, exige concentração e atenção, como quase nenhuma projeção atual, em que diálogos são empostados e silêncios, abolidos, ou sufocados pela música. A civilidade dos suecos é tal, que eles põem abaixo catedrais de sentimentos apenas com murmúrios, gemidos e palavras sussuradas. A história não vale à pena ser contada, mas sim assistida. Envolve, obviamente, adultério e, posteriormente, divórcio. Talvez, depois de passado o trauma, a produção sirva de antídoto contra um desejo incipiente de se separar ou, simplesmente, de pular a cerca.
>>> Infiel
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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