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Quarta-feira, 4/7/2001
I don't belong here

Julio Daio Borges




Digestivo nº 39 >>> O Radiohead arriscou toda a sua reputação com Amnesiac, último CD, lançado em junho. Como banda, praticamente abriu mão dos instrumentos, erguendo canções a partir do mais extremo minimalismo eletrônico. Depois da primeira audição do álbum, tem-se a nítida impressão de que tudo não passou de uma só música. A postura afirmativa do pop foi, há muito, abandonada, e o Radiohead concentra-se em climas densos e sombrios, evocando as mais profundas depressões de Ian Curtis e do Joy Division. Mais de oito anos transcorridos, desde o estouro com Creep. O grupo sofreu tantas e tamanhas modificações que se tornou irreconhecível. Passos já haviam sido ensaiados e o rompimento, com a geração, com o estilo, com o público, vinha paulatinamente se concretizando, conforme atestam Ok Computer (de 1997) e Kid A (de 2000). O encarte não traz muitas pistas: não contém letras e foi ilustrado com rabiscos, fotogramas queimados, estilhaços e cenas aflitivas. A imagem mais próxima a que se consegue chegar, seja através do ritmo, seja através das inferências sonoras, é a das grandes forças da natureza: o sopro agudo e incontível do vento; a cadência orquestrada e infinita do mar; a opressão e a inevitabilidade das rotinas do Homem. Thom Yorke canta displicentemente, sem o menor cuidado com a voz. Amnesiac não quer ser um disco agradável, e não faz o menor esforço para se deixar compreender. Às vezes, isso pode ser bom. Às vezes, isso pode ser tornar uma coisa insuportável.
>>> http://www.radiohead.com
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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