Quarta-feira,
4/7/2001
A confusão mais organizada que eu já vi
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 39 >>>
Elizabeth Bishop está bem representada, no texto de Marta Góes, e na interpretação de Regina Braga. A cenografia, de Jean-Pierre Tortil, e a direção, de José Possi Neto, proporcionam uma das experiências estéticas mais recompensadoras da temporada. Teatro, no Brasil, tem sido, praticamente, texto (em altos brados) e gestual (socos e pontapés no ar). Há que se louvar, portanto, soluções que permitam, ao espectador, vagar por entre imagens e suspender o discurso, com música. Nesse sentido, Um Porto para Elizabeth Bishop aproveita os recursos cênicos, com maturidade, desenvolvendo novas relações: seja do ator com o espaço; seja do ator com a iluminação; seja do ator com as intervenções sonoras. A história é um marco do homossexualismo feminino no País: a poeta americana, então com 40 anos, vem de passagem pelo Rio de Janeiro e termina se apaixonando por Lota Macedo Soares, com quem vive um romance, de 1951 a 1966. Registra suas impressões e, principalmente, seu estranhamento, em cartas e poemas, lidos e encenados, num arranjo bem construído. Desde a sua chegada, hesitante, em Santos, até o sucídio de sua companheira, fora do Brasil, passando pelo Prêmio Pulitzer, pelo Aterro do Flamengo, por Carlos Lacerda, e por 1964. Serve como uma tocante introdução à obra de Bishop, uma das maiores poetisas do século XX, e serve também para provar que sobre este solo já se produziram livros respeitáveis, longe da fama de esterilidade intelectual que paira no ar.
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Julio Daio Borges
Editor |
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