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Quarta-feira, 1/8/2001
But I like it

Julio Daio Borges




Digestivo nº 43 >>> O rock nasceu e cresceu nos Anos 50, floresceu e se consagrou nos Anos 60, misturou-se e ramificou-se nos Anos 70, diluiu-se no pop nos Anos 80, agonizou e morreu nos Anos 90. Ainda assim, deixou órfãos. É para quem ficou no saudosismo e na nostalgia de um ritmo e de toda uma era, que está no ar a Kiss FM (102,1 Mhz). Uma emissora modesta, visto que não dispõe de um arsenal de vinhetas, disc-jóqueis engraçadinhos e barulhentos, propagandas a cada 15 ou 20 minutos. Desperta simpatia, que uma rádio esteja começando, com a criatividade (de quem não repete os blocos), com a esperança (de quem anuncia um futuro de realizações) e com o amadorismo (de quem tem mais vontade do que recursos). Locomover-se pela cidade e, de repente, escutar Elvis, Beatles, Led Zeppelin, Smiths ou Dire Straits é um ato completamente surreal, fora do tempo, em plena época das dançarinas boazudas, do minimalismo eletrônico, dos CDs piratas e do comercialismo voraz das derradeiras gravadoras. É de se perguntar como uma iniciativa assim, sentimental, poderá sobreviver. Afinal, sabe-se que, há muito (dez anos, pelo menos), o rock não vende discos, estando definitivamente impossibilitado de igualar as cifras megagalácticas dos artistas brasileiros. Imagina-se, portanto, que a Kiss aposte num público cativo, desses que nunca morrem, como aliás o próprio rock. Como alternativa, terá também de competir com as programações independentes que proliferam na Web. Terá de sobreviver à sina dos animais em extinção, e das "freqüências multiuso", que hoje misturam estilos como quem prepara bebidas no liquidificador. É ouvir antes que acabe.
>>> Kiss FM - 102,1 Mhz - [email protected]
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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