Quarta-feira,
8/8/2001
A morte e a morte de jorge amado
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 44 >>>
Jorge Amado morreu, e morreram com ele todos os seus leitores. (Há muito que os seus livros se tornaram objetos de coleção.) Sua literatura serve agora de estandarte, para provar que o português (brasileiro) foi traduzido nos mais esdrúxulos idiomas. Mas Jorge Amado mesmo (no Brasil) virou sinônimo de adaptações para teatro, televisão e cinema. Está comprovado nos jornais e nas infindáveis homenagens póstumas: é mais fácil sacar uma imagem de Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça da lembrança do que citar-lhe uma única frasezinha sequer. Não se sabe se por vocação ou se por acidente, suas histórias caíram no gosto da teledramaturgia e da sétima arte, de modo a tornar seus escritos meramente acessórios. Todo mundo comprou as aventuras de Tieta, Dona Flor e Gabriela, mas por força do que assistiu (na telinha e na tela grande) preferiu não tocar-lhes as páginas. Jorge Amado é, portanto, um clássico (nunca te vi, sempre te amei). Um dos maiores exemplos de que sua referência se perdeu é a comparação, mesmo que subliminar, que se tem feito entre ele e Paulo Coelho. Nem bem o mago se candidatou à Academia Brasileira de Letras, já foi convidado a emitir juízos e pareceres (como se tivesse alguma embocadura para escrever). Dado o fuzuê, é praticamente impossível avaliar a importância do baiano como prosador e romancista da língua. O esforço hercúleo para afastar sua obra dos estereótipos e clichês do audiovisual talvez requeira o tempo de uma geração inteira. Por enquanto, salvá-lo ou condená-lo, dá no mesmo.
>>> Folha de S. Paulo
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Julio Daio Borges
Editor |
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