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Quarta-feira, 19/9/2001
Um estranho feriado

Julio Daio Borges




Digestivo nº 50 >>> O fim-de-semana se arrasta como uma tentativa frustrada de "metabolizar" e de "incorporar" toda a desgraça que se abateu sobre Nova York e o World Trade Center. Uma das maneiras de se fazer isso é acreditar em George W. Bush, e no Governo dos EUA, imaginando que uma invasão ou um bombardeiro ao Afeganistão vai devolver toda a tranqüilidade e toda crença num "mundo melhor". É preciso, portanto, muita fé no Tio Sam (que, em matéria de segurança e de terrorismo, aliás, não fez sua "lição de casa"). Outra maneira é tentar encaixar a dura realidade dos atentados, importada do Oriente Médio e das disputas religiosas, no dia-a-dia das grandes cidades do Ocidente. É conviver com a possibilidade de uma bomba no metrô, de uma faca dentro de um vôo doméstico, de um míssil que, perseguindo um "símbolo" qualquer, pode desabar como o céu na cabeça de milhares de inocentes. E é lamentável informar: mas a guerra contra o terrorismo é, de algum modo, uma guerra perdida, assim como a eterna (e velha conhecida) guerra contra as drogas. Um dos maiores temores, portanto, agora, é o de que o terror - e todas as iniciativas macabras que conduzem a ele - sejam "culturalmente" absorvidos, como práticas e como procedimentos, de modo a infernizar sociedades que nunca experimentaram esse gênero de retaliação entre "oprimidos e opressores". Por exemplo: nos Estados Unidos, neste momento, dezenas, centenas ou milhares de "terroristas amadores" estão aprendendo, a cada nova reportagem da CNN, exatamente como é que se faz. Tão logo possam, não resta dúvida, ensaiarão também um "sequestro com facas", emulando os camicazes de 11 de setembro (talvez não com a mesma contundência). Enfim, o desastre do WTC não se encerra em si mesmo. O melhor que se faz, portanto, é abraçar um comprensão "histórica" dos fatos e uma ação "global" frente ao problema. Qualquer reducionismo (texano ou não) vai reverter em novas ondas de terror e medo. A humanidade é hoje uma só. Junto com a globalização da economia, veio a globalização também das "diferenças".
>>> Carta Capital
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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