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Quinta-feira, 18/10/2001
Thou shalt not be afraid for the terror

Julio Daio Borges




Digestivo nº 53 >>> Nestes tempos de polarização, Oriente versus Ocidente, Os Dez Mandamentos, em DVD, é um filme que cai como uma luva. Impossível não lembrar dos terroristas atuais quando se vê Charlton Heston, o Moisés, invocando pragas de Deus contra o Egito de Ramsés. Pode ser que daqui a milênios, o Islã pinte os Estados Unidos como um império opressor, intolerante para com os fracos, tendo “escravizado” (economicamente) povos que nasceram também à imagem e à semelhança do Criador. Livres. Os fundamentalistas suicidas podiam encontrar a analogia ideal nesta fita. Talvez a tenham assistido. Cinematograficamente falando, o longa se escora na bela história bíblica, do príncipe que se descobriu plebeu, exilou-se e voltou para libertar seu povo das garras do Faraó. Quem encarna este último, exemplarmente, é Yul Brynner, provavelmente a interpretação mais relevante em mais de três horas de filme. A duração excessiva se apóia num dramatismo desnecessário que, transcorridas as devidas décadas, não é muito melhor que o sentimentalismo barato que se vê agora. O lírico perde para o épico. As melhores cenas são as que almejam a grandiosidade, embora num “home theater” soem irritantes as trombetas, expondo os efeitos especiais em toda a sua imperfeição. Ainda assim, Os Dez Mandamentos fica como um documento da época monumental de diretores como Cecil B. DeMille. A sétima arte arrolava para si certa função didática, educando através da História, formando moralmente (com exemplos e contra-exemplos) cidadãos ao redor do globo. É notável que o realizador venha a público, logo no início da projeção, afirmar que tinha pesquisado fontes alternativas, autores contemporâneos do próprio Cristo. Havia, ao menos, um princípio edificante que hoje, em qualquer arte, diluiu-se em puro “entretainment”.
>>> The Ten Commandments
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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