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Terça-feira, 23/10/2001
O orvalho vem caindo

Julio Daio Borges




Digestivo nº 53 >>> Um disco que passou em brancas nuvens e que merecia mais consideração foi o álbum de canções de Noel Rosa, na voz de Cristina Buarque (a irmã mais nova da dinastia) e no violão de Henrique Cazes (um ás que já dividiu o palco com Raphael Rabello). Ambos interpretam as extremamente bem-humoradas canções do Poeta da Vila Isabel, entremeando faixas com casos e histórias acerca de cada composição. Tem, por exemplo, a reconstituição do duelo que Noel Rosa travou com Wilson Batista, então um principiante. A polêmica, como os artistas preferem chamá-la, foi na base do verso-a-verso e teve inicio a partir dos sambas Rapaz Folgado (de Noel para Wilson) e Mocinho da Vila (de Wilson para Noel). Passando pelo clássico “São Paulo dá café, Minas dá leite e a Vila Isabel dá samba”, culminando com “Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz!”. Lembranças de um tempo em que ainda existia um negócio chamado inspiração poética. O CD foi gravado com base em shows feitos no Rio, na segunda edição da turnê intitulada “Sem tostão... a crise continua”. Um título sintomático. Ao lado dessa iniciativa, por assim dizer altruísta, está a gravadora Kuarup, que vem construindo um catálogo acima-de-qualquer-suspeita, no que se refere à música brasileira. Noel Rosa, um autor de uma simplicidade quase infantil, merece ser conhecido pela geração do MP3, que entende a MPB como uma sigla muito recente (do Tropicalismo pra frente). Esse disco é uma boa oportunidade para tanto, já que as versões estão à altura (técnica) do que se produz hoje, sem falar na devoção modelar de Henrique Cazes e Cristina Buarque ao mestre.
>>> Kuarup Discos
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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