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Quinta-feira, 6/12/2001
I make my own luck

Julio Daio Borges




Digestivo nº 60 >>> Quando se pensa em Gilda, a primeira cena que vem à mente é aquela repetida indefinidamente nas retrospectivas e nos programas sobre cinema: George Macready apresentando-a a Glenn Ford e ela (Rita Hayworth) erguendo a cabeça de supetão, num farfalhar de madeixas e cachos, como se uma nova estrela brilhasse no céu. E na constelação de Hollywood brilhava mesmo. O filme todo, visto mais de 50 anos depois, parece uma desculpa esfarrapada para Rita Hayworth fazer caras e bocas, cantar e dançar. O roteiro pretende ser sério em todos os seus desdobramentos: a história de um pequeno golpista que se associa a um dono de cassino e que termina se metendo em intrigas internacionais, envolvendo tungstênio (!). Em retrospecto, analisando tudo o que a Sétima Arte fez e deixou de fazer, é difícil encontrar uma atriz que reunisse tanta beleza e expressividade – principalmente no rosto, de olhos grandes, sobrancelhas arqueadas, lábios elásticos, e a bocarra estendida num sorriso até os molares ou pré-molares. O drama e o rancor de Glenn Ford (inspiração futura para Desi Arnaz?) soam exagerados hoje, uma época em que honra e traição não dizem muito. Ou, pelo menos, não duram tanto. E o cigarro, como acessório cênico, acabou caindo em desuso, soando démodé para as platéias atuais, mas sem comprometer a performance. O que continua na moda – volta-se a ela – é Rita Hayworth, com o corpo esguio, de pernas longas, braços e dedos longilíneos. Teria muito a ensinar a Gisele Bünchen, por exemplo, que tem o corpo (talvez), mas que não tem metade da classe, da leveza e das maneiras de Gilda. Glenn Ford (como Johnny Farrell) não cansa de empurrá-la, sacudi-la, ralhar com ela, acertando-lhe, inclusive, um sonoro tapa na cara. Deve ter chocado aqueles que pregavam o respeito e a delicadeza para com as mulheres (no século XXI, apenas machismo ou feminismo, dependendo de quem quer ter razão). O DVD da Columbia vem em embalagem simples, sem muitos extras, mas com imagem e som impecáveis. A fotografia é exemplar e as músicas pedem para que se corra atrás da trilha. Por fim, a pergunta que não quer calar: quantos delírios, fantasias e sonhos essa mulher não terá inspirado?
>>> Gilda
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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