Quinta-feira,
13/12/2001
Those were the days
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 61 >>>
Cruise. Kidman. Ninguém apostava que pudesse encontrar esses dois sobrenomes unidos novamente. Mas eis que eles surgem junto aos créditos de Os Outros: ele como produtor executivo; ela como atriz principal. E não é que eles montaram um belo suspense? Ainda que low-profile, vem conquistando seu séquito de fãs. É interessante notar que, embora coisas como religião e espiritualidade tenham caído de moda, existe uma demanda insistente por produções que tratem do “além”. Os Outros se passa numa época em que as pessoas ainda morriam por quase nada (primeira metade do século XX), e em que a convivência com a morte era um negócio muito natural. Daí, por exemplo, os fantasmas. Se morrer era um ocaso ao alcance de qualquer pessoa, mesmo os mais jovens (o longa fala em tuberculose), era reconfortante criar ilusões de que “quem se foi” voltava. Apesar de não ter nada a ver com assombração e sustos, os atores falam um inglês impecável e as duas crianças (filhas de Kidman na história) são convincentes como poucos infantes na sua idade. Os Outros não é uma revolução em matéria de cinema, nem em matéria de nada, mas, de tão bem cuidado e astuto (que ninguém conte o final!), acaba cativando o espectador. Sai-se da sala sobressaltado, à espera de rever o espectro daquele parente antigo ou desconhecido. Quanta gente já não firmou pactos por toda a eternidade, prometendo vir puxar o pé (justo o pé) do ser amado? Paulo Francis disse uma vez que, se pudesse dar o ar da graça novamente, procuraria infernizar a vida daquele pessoal lá em Brasília. Esse troço de virar ectoplasma não é perspectiva das mais agradáveis. Mas melhor isso do que virar pó ou comida para minhocas. Todos. Cruise. Kidman. Outros. Nós.
>>> The Others
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Julio Daio Borges
Editor |
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