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Quarta-feira, 19/12/2001
Tomorrow Never Knows

Julio Daio Borges




Digestivo nº 61 >>> O futuro. “Negócios Exame” reuniu, em sua edição de despedida, sete grandes cérebros para opinar sobre o que virá. A regra de ouro é duvidar sempre desse tipo de prognóstico. Não porque seja difícil acertar – afinal sempre é –, mas porque as publicações invariavelmente convidam sujeitos em fim de carreira (ou no penúltimo estágio dela), sem muito interesse, portanto, em revolucionar alguma coisa. Trocando em miúdos: eles não vão querer mudar o jogo que os fez vencedores. Quem cria o futuro, de fato, está muito mais preocupado em fazer a coisa acontecer, sem tempo para discorrer sobre conceitos que a maioria ainda não domina ou nem sequer assimilou. O futuro, ou as bases para ele, assim sendo, só existe na cabeça de algumas pessoas – e certamente elas não vão botar a boca no trombone. É preciso lembrar que os verdadeiros visionários padecem de extrema solidão (pois ninguém crê neles), passando muito longe da popularidade dos heróis das capas de revista, como a Exame. A impressão mais freqüente que se guarda desses textos que descrevem as casas, os empregos, os automóveis do futuro é a de que se faz necessário seduzir os operários do “mundo corporativo” a fim de que eles alimentem alguma esperança de estabilidade. A mesma que jamais alcançarão. É como a isca do condutor de muares: os animais jamais irão abocanhá-la, mas correrão atrás dela enquanto tiverem pernas e disposição para tal. Os mitos foram criados, na Antiguidade, para aplacar o medo e a dor. Do mesmo modo, as grandes empresas forjaram os seus: para infligir, em seus empregados, justificados sofrimentos e corretivas humilhações. A diferença é que o homem do século XXI acredita ter evoluído enormemente – embora, volta e meia, caia em lorotas como essa: sobre o “futuro”.
>>> Visões do Futuro Digital
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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