Quinta-feira,
3/1/2002
The lowest form of celebrity
Julio
Daio Borges
|
Digestivo nº 63 >>>
Não existe exagero em afirmar que o DVD é a única tecnologia (até agora) que permitiu ao cinema das primeiras décadas competir em pé de igualdade com as produções atuais. O formato VHS era pleno em limitações técnicas, de som e de imagem, prejudicando mais acentuadamente o que se fez em preto e branco e nos primórdios do cinema falado. Assim, não existe base de comparação entre as interpretações de Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders em “A Malvada” (All About Eve) e qualquer coisa que esteja em cartaz neste momento. É impressionante a preocupação cênica ao longo da fita, revelando uma presença de palco (do elenco) que nem no teatro de hoje é possível encontrar. As atuações são impecáveis ou, no mínimo, convincentes – destacando-se a disputa à la Oscar Wilde, entre Margo Channing (Bette Davis) e seus antagonistas. Na história, ela é o modelo de atriz consagrada que, adotando uma protegida mais jovem (Anne Baxter), sente-se ameaçada por ela. É claro que a última é puro lobo-em-pele-de-cordeiro, e vai seduzindo, aos poucos, todos os que se devotavam à primeira. Todo mundo conhece a patologia: a admiração obsessiva que converte, paulatinamente, o “admirador” em “objeto admirado”. Como em toda a realização que preza a “vida como ela é”, o bem não triunfa sobre o mal. Mas os derradeiros minutos apontam para um ciclo que se fecha, introduzindo uma fã no camarim de Eve (a malvada) e sugerindo, portanto, conseqüências cármicas. Para os que precisam de um estímulo a mais, também consta do “cast” uma Marilyn Monroe em início de carreira, recém-chegada da Copacabana School of Dramatic Art (é sério). Talvez anunciando que a forma prevaleceria sobre o conteúdo. Enfim, não se fazem mais "bettes davis" como antigamente.
>>> All About Eve
|
|
>>>
Julio Daio Borges
Editor |
|
|