Segunda-feira,
14/1/2002
Mire e Veja
Julio
Daio Borges
|
Digestivo nº 64 >>>
O “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, acaba de ser relançado pela editora Nova Fronteira, dando oportunidade para que se conheça uma das mais importantes obras da literatura brasileira do século XX. Todo grande clássico, com o passar dos anos, tende a se reduzir a uma meia dúzia de clichês que, incontestáveis, tomam o lugar da obra. Não foi diferente com o “Grande Sertão”. O primeiro clichê se refere à sua linguagem, indubitavelmente inovadora (sem precedentes), mas não intransponível como muitos querem fazer crer. O segundo clichê pretende limitar o interesse do livro, encerrando-se no microcosmo do “sertão” (um termo vago e pejorativamente regionalista). O “Grande Sertão” é, ao contrário do que pensam seus detratores, universal – sendo o “sertão” apenas um ponto-de-partida, uma alegoria, uma “ambientação” narrativa. O terceiro clichê se relaciona ao amor de Riobaldo por Diadorim, que, inicialmente homem, revela-se mulher (no final). A mentalidade simplificadora de alguns quis impor a idéia de que, uma vez descoberto o “segredo de Diadorim”, a travessia pelo “Grande Sertão” perderia metade da graça. Não é verdade. A obra-prima de Guimarães Rosa deve ser consumida e saboreada, migalha por migalha, não havendo absolutamente qualquer “mistério a ser desvendado” que se sobreponha ao grosso volume em sua totalidade. Apesar de seus imitadores, o “Grande Sertão”, além dos clichês, parece que ainda não foi devidamente compreendido e, principalmente, apreendido como influência. Isso, qualquer pessoa que leia a produção literária posterior a ele pode perceber. Enquanto as lições nele contidas não são postas em prática, é preciso mergulhar nas suas páginas de tempos em tempos. Depois (ou antes) de Machado, não se conhece nada melhor que tenhamos feito nos mil e novecentos.
>>> "Grande Sertão: Veredas" - Guimarães Rosa - 538 págs. - Nova Fronteira
|
|
>>>
Julio Daio Borges
Editor |
|
|