Quinta-feira,
31/1/2002
So much that was good but is gone
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 67 >>>
Como Era Verde Meu Vale. O que sugere um título desses? Decerto que não um filme em preto-e-branco. Mas é justamente o caso: uma produção sem cores que, no entanto, irradia um colorido esfuziante. De sentimentos, nobres sentimentos. Família. União. Autoridade. Resignação. Palavras hoje acompanhadas de uma dúzia de preconceitos cada. É démodé e quadrado, por exemplo, defender uma “família” bem-constituída (com pai e mãe). É simplesmente impraticável, em plena era do individualismo e do consumo, alcançar algum tipo de “união”. É retrô, com laivos de conservadorismo (reaça), respeitar qualquer que seja a “autoridade”. E é sinônimo de tolice e comodismo, entender que a melhor saída, muitas vezes, vem através da “resignação”. Por isso, um DVD como How Green Way My Valley tem hoje tanta importância. Para mostrar que esses valores são válidos e não “atrasados” ou “caretas”, como se costuma pensar. Crescemos com a ilusão, ou a desilusão, de que o ser humano é auto-suficiente em seus sentimentos; de que sozinho e investido de poder (qual seja) consegue tudo; de que não deve nada a ninguém, principalmente respeito àqueles que o precederam; e de que a vida é puro livre-arbítrio, tendo o destino (ou o que for) papel alegórico em toda a história. Acontece que essas crenças (sim, crenças) não nos bastam e quando nos deparamos com uma sociedade regida por princípios contrários aos nossos – com problemas também, mas inspirando simpatia e aspirações mais elevadas – é tempo de se pensar se o nosso modelo não está... ultrapassado. Isso mesmo: ultrapassado. Bem, se o discurso “pseudomoralizante” incomoda, o argumento estético deve convencer os mais refratários: assista-se Como Era Verde Meu Vale pela beleza. Só por ela, ele já vale. Ah, se vale.
>>> How Green Was My Valley
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Julio Daio Borges
Editor |
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