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Quinta-feira, 7/2/2002
Acontecimento de particular vibração

Julio Daio Borges




Digestivo nº 68 >>> O Canal Brasil levou ao ar o documentário “Em Foco - Cinemateca Brasileira”, de Kiko Mollica, sobre os 50 anos da mais importante instituição dedicada ao cinema brasileiro. Para quem cresceu ouvindo as chorumelas das viúvas do Cinema Novo (durante anos subsidiadas pela Embrafilme), praguejando contra o governo Collor e dando vivas à chamada Lei do Audiovisual, imagina que os tempos anteriores a estes (de agora) foram áureos para a telona, no Brasil. Acontece que não foram melhores. Talvez até muito piores. De modo que os companheiros não tão geniais de Glauber Rocha têm as suas pitangas para chorar, mas sem Paulo Emílio Salles Gomes e Francisco Luiz de Almeida Salles, provavelmente passariam incólumes, não importando quais idéias tivessem na cabeça ou quais câmeras tivessem na mão. A “Cinemateca Brasileira” nasceu em agosto de 1940, como “Clube de Cinema de São Paulo”. A primeira tarefa (árdua) de seus fundadores, os dois Salles, foi provar, por “a + b”, que cinema era arte. Em seguida, conseguir uma sede. Uma novela que se estendeu por décadas, com um acervo que se ganhou e que se perdeu por causa de três incêndios. Paulo Emílio morreu de enfarte em 1977, quando já enfrentava as batalhas sozinho. (Detalhe: sem ver seu sonho realizado.) Por incrível que pareça, no entanto, seus pupilos, alunos da cadeira de cinema que ele ajudou a fundar na Universidade de São Paulo, levaram a coisa adiante, até transformar a “Cinemateca” em órgão federal. Em 1988, conquistam a sede definitiva, contando com a simpatia do então prefeito Jânio Quadros. A partir de 1993, o acervo (ou o que restou dele) ganha uma sala climatizada e um laboratório especial, para restauração. Hoje são mais de 150 mil rolos e mais de 30 mil títulos. Paulo Emílio e seus ideais, enfim, triunfaram. E por mais que permaneçam as querelas, em torno do real valor da sétima arte à brasileira, o trabalho da “Cinemateca” é, sem sombra de dúvida, de se admirar.
>>> Cinemateca Brasileira
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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