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Terça-feira, 12/2/2002
Pérola de superfície irregular

Julio Daio Borges




Digestivo nº 68 >>> Barroco, aprendemos com a professora de literatura, é sinônimo de conflito. Oposição entre corpo e alma, céu e terra, carne e espírito. É também (diz a mesma mestra), o exagerado, o excessivo, o desmedido. Portanto, o espetáculo “Barroco!”, de Marcelo Fagerlande e Alberto Renault, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, poderia nos sugerir uma performance carregada e agressiva. Mas não é nada disso. O “barroco” do presente recital, que agrupa compositores desse período da História, de acordo às “Paixões da Alma” de Descartes, serve apenas de mote para compor uma apresentação agradável e revigorante. Tanto é verdade, que a composição do cenário, em branco, com formas geométricas, alternando uma ou outra cor bem básica, transmite um preciso senso de harmonia e serenidade (contrastando imensamente com o centro da cidade, do lado de fora, por exemplo; esse, sim, barroco até não poder mais). O programa se compõe de árias de Rameau, Purcell, Monteverdi, Haendel e Boismortier – surpreendentemente bem interpretadas por sopranos, tenores e baixos brasileiros. O público sabe se comportar e o teatro é suficientemente pequeno – o que garante uma audição excelente e uma visão que permite acompanhar, de qualquer assento, a expressividade dos nomes no palco. A formação – de violino, viola, violoncelo, flauta, oboé, percussão, tiorba e cravo – opta pela discrição e pelas feições graves (sofrendo inclusive intervenções cênicas, mas sem se abalar). A execução é muito eficiente e o espectador se sente transportado para tempos imemoriais. A higiene mental compensa um dia inteiro de trabalho, cheio de atribulações. E a grande música, bem, essa está entre as melhores coisas que o homem soube realizar.
>>> Barroco!
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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