Segunda-feira,
25/2/2002
Maldito é o fruto
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 70 >>>
Plínio Marcos foi, no panorama do teatro brasileiro, um dos autores mais anárquicos. Assim sendo, não se poderia esperar dele uma versão bem comportada da vida de Jesus. Em “Jesus Homem”, ele aposta num viés revolucionário, não só do mestre mas também dos discípulos, transformando Judas Iscariotes e até Pedro, o pai da Igreja, em entusiastas da conversão pelas armas, através da tomada do poder, e não simplesmente fazendo uso da pregação ou do evangelho. É uma visão bastante radical e, de certo modo, até anacrônica, porque alguns desses conceitos fogem ao contexto de tantos séculos atrás. O resultado, contudo, é no mínimo provocador. Outra faceta assaz característica da produção de Plínio Marcos, a sua inclinação mambembe, também pode ser encontrada nesta montagem (a terceira desde que a peça foi escrita em 1980). O fato da obra ser construída como ópera-samba já aposta no estranhamento do espectador, que se vê obrigado a conciliar a “missa” com o “morro”, a solenidade com a descontração. Nesse sentido, igualmente, abundam os palavrões de efeito jocoso e mesmo intervenções propositalmente desconcertantes (como a do soldado romano que, do meio da platéia, atende a um telefone celular). O elenco conta com o reforço de grandes nomes (como Jairo Mattos e Vera Zimmerman), e teve o apoio de João Acaiabe, o “Jesus Negro” da primeira versão, em participação afetida quando desta estréia. Eles e o diretor Marcelo Medeiros saúdam o espírito contestador de Plínio Marcos; e, quem sente falta da sua ternura e do seu deboche pode, com prazer, revisitá-lo.
>>> Jesus Homem - C.C.S.P. - R. Vergueiro, nš 1000 - Tel.: 3277-3611
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Julio Daio Borges
Editor |
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