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Terça-feira, 12/3/2002
O Mar e o Lago

Julio Daio Borges




Digestivo nº 72 >>> Notas em revistas e jornais informam que Mário Lago está entre a vida e a morte. Qual a imagem que se guarda dele? Sem dúvida, a do ator maduro, transbordando serenidade, em conselhos seculares e sabedoria decantada. Sem falar na meia dúzia de paixões nostálgicas, nuns quantos brios exaltados, reavivados quando convém, pelo sopro do tempo. Aliás, dentro desse tema, mereceu destaque seu relato de sobrevivente, atravessando com altivez os “anos de chumbo”. (Apenas uma pequena concessão, de um artista de mais 90 anos, a um dos assuntos mais caros à imprensa contemporânea.) O que interessa, talvez, não seja nada disso. A Revivendo recentemente lançou uma compilação de suas composições, nestas nove décadas. Um Mário Lago autor desponta para a ignorância musical reinante. Quem o conhecia apenas de “Ai, que saudades da Amélia” (a tal “mulher de verdade”), vai encantar-se como ele na voz de Mário Reis (“Menina, eu sei de uma coisa”), Carmen Miranda (“Sambista da Cinelândia”) e Orlando Silva (“Mentirosa” e “Número Um”). Compositor de boa lavra, teve como parceiros Custódio Mesquita, Ataulfo Alves e Benedito Lacerda. As marchas de carnaval, a alegria prafrentex, não se encaixam muito bem no perfil estabelecido (o do senhor de voz grave, olhar estudado e gestos calculados, contracenando em tramas de tevê). Para aqueles que preparam seu necrológico, um recado sutil dado por Francisco Alves: “Quem tem você que se meter / Na minha vida particular // Se eu tenho um amor / Se eu tenho dois / Se eu tenho três / É porque posso arranjar // Que tem você se eu vivo alegre / E se agora sou feliz?”. [Ah, se a juventude pudesse... como nesses dias pôde... a trilha sonora – de agora – seria bem outra.]
>>> Mário Lago - 90 anos
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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