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Terça-feira, 2/4/2002
Olhos de raio x

Julio Daio Borges




Digestivo nº 75 >>> Uma das formas de se encher a bola de um artista, hoje em dia, é afirmar que ele transita com desenvoltura tanto pelas novas tecnologias quanto pelas suas ancestrais raízes. Claro que a afirmação não faz sentido na maior parte dos casos, adquirindo um status de frase de efeito. Lenine talvez seja o único artista em que caiba essa definição (até porque propõe o crossover entre a eletrônica e a acústica muito antes do emergente lugar-comum). E Lenine é o único, senão um dos únicos, que tem a competência para levar a proposta adiante. Depois deste preâmbulo, não fica difícil adivinhar que “Falange Canibal”, seu novo CD, não é simples nem fácil para a maioria das pessoas. É Lenine dentro de seu laboratório, tentando casar a alquimia de dezenas de convidados; muitos ilustres (Eumir Deodato, Yerba Buena, Living Colour, Cambaio), embora o músico, com seu talento, abafe todos indiscriminadamente. Numa primeira audição, a impressão é de que, no percurso de “Olho de Peixe” (1993) a “Falange Canibal” (2002), a melodia se perdeu em algum lugar, na percussão. Suas composições aparentemente se restringem a “loops”; mas é só aparentemente. O lirismo ainda está lá e o terreno continua fértil. Provam a tese: “Sonhei”, “Lavadeira do Rio”, “Nem o Sol, Nem a Lua, Nem Eu” e “Quadro-negro” – mas principalmente “Encantamento”, “Caribantu” e “No Pano da Jangada”, quando o artista se espreme entre míseros dois minutos. Para muitos, Lenine não chegou; para alguns, já passou; para todos, no entanto, continua. A atual música brasileira passa por ele.
>>> Falange Canibal - Lenine
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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