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Segunda-feira, 13/5/2002
Um longo desamor

Julio Daio Borges




Digestivo nº 81 >>> Ana Lúcia Torre e Eduardo Moscovis, o núcleo da última montagem de “Eles não usam Black Tie”, estão de volta aos palcos paulistanos com “Norma”, de Dora Castellar e Tonio Carvalho. Depois de uma bem sucedida temporada no Rio de Janeiro e de uma elogiada passagem pelo Festival de Curitiba, a peça chega a São Paulo, no Teatro do Centro da Terra. De concepção intimista, para palcos pequenos e platéias selecionadas, o espetáculo é pontuado pela delicadeza e pelos gestos vagarosos, embora marque o espectador mais pela catarse. Norma (aquela que vive a “regra”) e Renato (aquele que passa por um “renascimento”) encontram-se por acaso, graças a um número de telefone que precisava ser atualizado – mas acabam descobrindo semelhanças, coisas e pessoas em comum, que possibilitam uma experiência profunda e também dolorosa. Em linhas gerais, Norma redescobre em Renato o filho que nunca aceitou; e Renato redescobre em Norma a mãe amargurada e solitária, num ideal de perfeição. Atualmente, em teatro, o consenso é de que as grandes situações cênicas só podem ser alcançadas quando as personagens vivem um momento de crise. Portanto, é quase comum topar com textos que conduzem a platéia até a beira do abismo (nem sempre havendo redenção). Talvez fosse importante também ressaltar o aspecto lírico, que em Norma igualmente enriquece e encanta. Pena que a crítica só se preocupe com a “regressão psicanalítica”, orientando as iniciativas teatrais por esse viés, quando há também a música, a dança, as palavras doces e o afeto desinteressado. É preciso retomar os bons sentimentos, que – tanto quanto os “maus” – também transformam o espectador. Eis aí justamente a oportunidade de questionar a norma.
>>> Norma - Teatro do Centro da Terra - Rua Piracuama, 19 - Tel.: 3675-1595
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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