Quarta-feira,
5/6/2002
Com intervalos de música séria
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 84 >>>
Quatro anos se passaram e a Copa do Mundo, novamente, chegou. Desta vez, não está com pinta de que está agradando. Além de se oporem ao técnico, os brasileiros atualmente se opõem à transmissão (embora tenham aderido a ela em massa, afinal, não existe alternativa) e, nas ruas, questionam a própria importância do campeonato para um país em desenvolvimento (o mesmo que, apesar do fuso horário, ainda pára para assistir aos jogos). Um taxista, indagado sobre qual time apoiaria (no caso do Brasil se desclassificar), respondeu com a seguinte e ilustrativa frase: “Eu vou torcer para mim. Vou torcer para a minha sobrevivência, como, aliás, torço todos os dias.” Esse é o espírito; e ele paira sobre um povo que, embora majoritariamente alienado, começa a rever certos rituais quase sacros. Fora que estamos em ano de eleições. E fora que a TV Globo, na sua cobertura televisiva (certamente a de maior audiência), tem tropeçado no próprio orgulho (e tomado tombos cada vez maiores), desde os flashes até a narração. A começar por Galvão Bueno que, não obstante a execração pública e a lembrança sempre pejorativamente negativa (quando por exemplo, um chato de cinema resolve “narrar” o filme), esteve, durante a partida contra a Turquia, mais prepotente, grosseiro e assoberbado do que nunca; ainda que o espectador (em teoria) disponha de comentaristas, para justamente complementar o que ouve e vê, Galvão Bueno dirige, edita e corrige, em tempo real, as falas de Arnaldo Cezar Coelho, Casagrande e Falcão, sem a menor cerimônia, como um déspota eletrônico. Se já não bastasse, intimida inclusive o próprio técnico da seleção, que, numa afronta inexplicável a qualquer tipo de “concentração”, adentra o estúdio e participa da mesa-redonda, como se nada fosse, como se assistisse a tudo de camarote, chegando ao cúmulo de votar (em cadeia nacional) no melhor e no pior jogador em campo. A Globo, enfim, assenhorou-se não só da transmissão, mas também dos atletas, do treinador, dos auxiliares (para não dizer da Fifa e do campeonato), numa mesma época em que o esporte vive, junto à torcida tupiniquim, uma temporada histórica de indiferença e descaso. Veremos até quando essa tragicomédia perdura.
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Julio Daio Borges
Editor |
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