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Quinta-feira, 6/6/2002
The safest room in the house

Julio Daio Borges




Digestivo nº 85 >>> Está atualmente em voga um tipo de filme que, ao infligir torturas nas personagens, na verdade as inflige no espectador. Todo mundo conhece o gênero: ele compete com a violência da vida real; e como essa tem sido crescente, a outra, para acompanhá-la, cresce num ritmo muito mais celerado. Resultado: mesmo que a nossa capacidade de suportar (e assimilar) a violência do dia-a-dia “evolua” em progressão aritmética, no cinema, como na Lei de Malthus, nossa sensibilidade é aviltada aos trancos, em progressão geométrica ou até mesmo exponencial. É a impressão que nos passa uma produção como “Quarto do Pânico”, o novo longa de Jodie Foster. Dentre as cenas desenvolvidas com requintes de crueldade, há: um espancamento à base de botinadas; um braço que arde em chamas; um rosto golpeado a marretadas; uma menina, provavelmente diabética, ficando verde pela falta de insulina; uma mão esmigalhada graças a uma porta de aço automática. E há mais; muito mais. É, para começar, um desperdício de Jodie Foster que, quer queira quer não, debutou aos 13 anos em “Taxi Driver” (de Scorsese) e agora vive de bancar a heroína viril, exibindo apenas suas curvas siliconadas de mulher de quarenta anos. Para acompanhá-la, Kristen Stewart, uma ninfeta subliminarmente hermafrodita, cuja atuação se resume a algumas caras e bocas. Resta ainda Forest Whitaker, esse mais desperdiçado do que todos os outros juntos, depois de papéis razoavelmente relevantes com aquele do mecânico (Cyrus Cole) em “Cortina de Fumaça” (Smoke, 1995). O cenário é o dos apartamentos do West Side nova-iorquino, tão comuns em tela grande e tão raros na existência de meros mortais. A sofisticação toda não dura 15 minutos; então chega a promessa anunciada da barbárie. Se o sujeito procura sustos, aflições e uma história rasa, vai encontrar em “Quarto do Pânico”. Se, ao contrário, não é nada disso que procura, pode passar longe do cartaz que não vai perder nada.
>>> Panic Room
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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