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Quinta-feira, 20/6/2002
Une bête monstrueuse

Julio Daio Borges




Digestivo nº 87 >>> Não é tão grave no caso de “Amélie Poulain”, mas no caso de “Pacto dos Lobos” (recém-lançado), tem gente assistindo e achando que aquilo é que é cinema francês. Pior: tem crítico de cinema supondo que a “indústria cinematográfica” francesa pretende fazer frente a Hollywood, servindo-se de refugos da Sétima Arte como esse. O autor de “Vestido de Noiva” costumava dizer que qualquer bobagem soa maravilhosamente bem quando vertida para o idioma de Voltaire. De fato, a única coisa que se aproveita nesse filme de Christophe Gans são os diálogos (se é que alguém ainda aprende francês, e se é que alguém ainda anseia por praticar, depois do advento da TV5). Contra todos esses argumentos, porém, existem os tais incontestáveis números: estão proclamando, aos quatro ventos, que milhões assistiram a “Le Pacte des Loups”, na terra de Asterix. Bem, por mais milhões que tenham sido, é sempre bom lembrar que um país que congratula Paulo Coelho, como escritor, deixa de ter a mesma reputação intelectual e a mesma relevância que teve nos séculos XIX e XX (até meados, pelo menos). [Mas vamos ao visto e ouvido.] A história, digamos, não começa tão mal: um suposto investigador, de uma época não situada de reis e rainhas, parte para um certo vilarejo, buscando desvendar um mistério; lá, moças desprotegidas e toda a sorte de andarilhos são, sem razão aparente, atacados e mortos por um ser monstruoso, denominado “a besta”. O roteiro então aposta nos clichês mais histéricos do momento: o ajudante-de-ordens do nosso aventureiro é, nada mais nada menos, que um índio metido a místico, daqueles que “fala” com animais e “entende” os sinais da natureza; o protagonista conhece e se “apaixona” por uma fedelha ranheta (que banca a difícil em mais da metade do longa, para entregar-se nos últimos cinco minutos); a “sociedade” local se volta contra o nosso “herói” e ele, como não poderia deixar de ser, “rompe com o sistema”, para o triunfo final do “bem”. Quelle bêtise. Como se não bastasse, há ainda os lamentáveis efeitos especiais e a caracterização da “besta” (para a tristeza dos espectadores, ela existe). Claro, o julgamento deve ser sempre individual; mas é certo que isso está tão longe dos mestres do “cinéma”, quanto o verdadeiro cinema brasileiro está distante de coisas como “Xuxa e os duendes”.
>>> O Pacto dos Lobos
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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