Terça-feira,
2/7/2002
Depois de um pilequinho
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 88 >>>
É impossível ouvir o CD de Paulinho Nogueira e não se perder entre os cacos de um tempo que passou. Oscilando entre a nostalgia e a reverência, ele registrou suas próprias versões para “as primeiras composições de Chico Buarque, quando ainda não tinha feito parcerias”. A frase sugere muitas interpretações; dentre elas, a de que muita gente sente saudade do jovem sambista puro (a continuação de Noel Rosa?), pedra bruta, na espontaneidade dos primeiros versos, nas intuições harmônicas (que o próprio Paulinho Nogueira aponta), nas melodias que impregnaram décadas. Chico Buarque de Hollanda, porém, sofreu de consagração precoce (antes dos 25 anos). E ninguém melhor no mundo para saber o que é se sentir amordaçado pelo próprio sucesso. Teve de mudar (ainda que tantas pessoas não tenham se conformado). O CD, portanto, é de uma singeleza ímpar; econômico até nos músicos (fora o violonista, só há mais dois: João Parahyba, às vezes na percussão; e Teco Cardoso, às vezes na flauta). Bate de frente com a orquestra que acompanhou o compositor de “A Banda”, na sua última turnê (“As Cidades”), engessado pelos arranjos e pelos próprios clássicos. Evoca o João Gilberto mais recente (2000), minimalista extremado, raspando os dedos nas cordas do violão, gravando as nuances do próprio bafo. Numa das fotos do encarte, Paulinho Nogueira parece oferecer o instrumento ao jovem compositor que – acredita – o tempo não levou. O mesmo de “Carolina”, “Olê, Olá”, “A Banda”, “João e Maria”, “Joana Francesa”, “Com açúcar, Com afeto”, “Quem te viu, quem te vê”, “Rosa dos Ventos”, “Roda Viva”, “Olhos nos Olhos” e “Noite dos Mascarados”. Chico Buarque, porém, está ocupado. Escreve seus livros e afaga seus netos. Enquanto isso, seu cancioneiro segue. Livre.
>>> Chico Buarque - Primeiras Composições - Paulinho Nogueira - Trama
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Julio Daio Borges
Editor |
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