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Segunda-feira, 22/7/2002
Aberto e polifônico

Julio Daio Borges




Digestivo nº 91 >>> Ninguém sabe muito bem, mas parece que foi a indústria cultural quem nos bombardeou com a sua produção, de uns tempos pra cá. Graças a ela, gregos clássicos, romanos decadentes, renascentistas, modernos e pós-modernos convivem na mesma prateleira, sem que ninguém note as diferenças entre eles. Isso cria um problema: muita gente lê a cópia barata (vide, por exemplo, as teorias de Maquiavel aplicadas ao mundo corporativo) sem sequer desconfiar da existência de um original logo ali ao lado ("O Príncipe", do século XVI, nesse caso). Para suprir essa deficiência e, de algum modo, orientar o leitor desamparado, surgem livros como o de John Lechte, recém-lançado pela Difel: "50 Pensadores Contemporâneos Essenciais - Do Estruturalismo à Pós-Modernidade". Se, em citações aleatórias, nunca se soube situar sujeitos como Foucault, Baudrillard, Touraine, Chomsky, Bataille e Deleuze, existe uma chance desse professor australiano desanuviar algumas mentes interessadas. E confundir outras, é claro; ainda mais se ele pretende atravessar seções altamente indigestas, como a de Semiótica, esmiuçando a obra de autores como Barthes, Eco (não o romancista), Kristeva (sua ex-orientadora), Peirce e Saussure. Também pouco recomendável a seção que abarca o Feminismo da Segunda Geração (nem vale a menção das autoras). Mas o resto parece válido. Lechte, na verdade, "ficha" toda uma época, com breves (e, às vezes, intricados) resumos de cada nome, indicando suas principais obras, textos secundários e alguma bibliografia adicional (de comentadores, biógrafos ou similares). É, portanto, mais que tudo, um guia de referência (não deve ser lido de orelha a orelha). Seu conceito de pensador, no entanto, é elástico, pois inclui em sua seleta escritores como Kafka e Joyce, romancistas como Marguerite Duras e psicanalistas como Freud; ao mesmo tempo, omite figuras indispensáveis como Sartre, Aron, Gide e Camus (nem que fosse como contraponto, deveria evocá-los). Trata-se, enfim, de uma lista e, como tal, imperfeita. Como ponto de partida, contudo, se justifica (nem que seja pela folheada, de pé, na livraria).
>>> 50 Pensadores Contemporâneos Essênciais - John Lechte - 280 págs. - Difel
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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