Sexta-feira,
9/8/2002
The Art of Possibility
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 94 >>>
Ainda parece haver esperança para a música, quando se ouve a Orquestra de Jovens das Américas, que se apresentou no Teatro Alfa, sob a regência de Benjamin Zander, dentro da temporada do Mozarteum Brasileiro. Embora embalados como projeto social, de integração entre 20 países, através de músicos entre 14 e 24 anos, a Orquestra, em sua primeira turnê mundial, tem mais que patrocinadores (como o Deutsche Bank), tem resultados a mostrar. O primeiro deles talvez seja Horacio Lavandera, um jovem pianista argentino de 18 anos, ovacionado pela platéia depois de executar impecavelmente o "Concerto nš 4" de Beethoven. Com a mesma desenvoltura, de longas melenas, emendou uma "Rapsódia em Blue", de Gershwin, no bis - e por insistência dos constantes aplausos, ignorando a extensão do programa, ainda voltou para mais duas peças virtuosísticas e modernosas. Sem exagero: sugeriu um novo Evgeny Kissin ou, pela nacionalidade, um futuro Daniel Barenboim (resta agora saber quem será a próxima Jacqueline du Pré). Por falar neste último, foi impossível não comparar a execução de Mahler (da mesma "Sinfonia nš 1"), pela Orquestra e seu maestro, com aquela apresentada pela Sinfônica de Chicago, regida por Barenboim, na Sala São Paulo, quase dois anos atrás. Apesar de irrepreensível como mestre de cerimônias e showman, faltou a Zander pulso e gravidade no primeiro movimento, tomado por violinos e violas, abafando sopros e cellos; aliás, essa foi a tônica também no segundo e no terceiro movimentos (este último favorecido pelo valsear do mar de cordas); só no quarto e derradeiro foi atingida a "feroz veemência", necessária e apontada por um amigo do compositor. Assim, apesar do início mahleriano vacilante, o programa foi fechado em triunfo, exaurindo o condutor e os músicos. Para finalizar com uma imagem de harmonia e integração entre os povos, houve a bela participação dos Meninos do Morumbi que, apesar de percussivos e viscerais na origem, souberam se ajustar entre seus colegas eruditos. Talvez, mais do que qualquer discurso, a música consiga pacificar um dia os corações dos homens.
>>> Orquestra de Jovens das Américas
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Julio Daio Borges
Editor |
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